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O presidente da Câmara de Curitiba, João Cláu­­dio Derosso, foi à lona devido a um golpe certeiro do Ministério Público. Ficasse um dia mais no cargo e correria o risco do vexame de ser expulso. Assim, tentou iludir o distinto público fazendo parecer que agia com grandeza: não queria atrapalhar as investigações. Se fosse esse verdadeiramente o caso, teria saído quatro meses atrás.

Derosso foi ficando porque achou que nada aconteceria com ele. As investigações da própria Câmara, onde todos (com raríssimas exceções) são fiéis frequentadores da Sapolândia, tinham tudo para dar em nada. E, aliás, têm todas caído como moscas. A cada dia, arquivam um procedimento, como se o fato de os promotores dizerem que a situação é grave entrasse por um ouvido dos vereadores e saísse por outro.

E o outro fator que poderia ter servido de pressão para que Derosso saísse mais cedo, abreviando a crise na Câmara, simplesmente se manteve apático durante todo o processo. São os curitibanos. Os eleitores da cidade mantiveram-se olimpicamente sentados no sofá enquanto anunciava-se aos quatro ventos que seus tostões estavam voando pelas janelas da Câmara.

Houve um ou outro protesto. Mas, falemos a verdade: participaram apenas militantes ligados ao PT. Povo mesmo, espontaneamente nas ruas? Não se viu. Parecia que o noticiário estava tratando de desvio de dinheiro praticado em Alagoas, na Lituânia ou em Marte. Podia-se imaginar que pelo menos os eleitores do Xaxim ou dos outros bairros que elegeram Derosso ficassem indignados. Que saíssem às ruas dizendo-se traídos. Mas nada.

Os vereadores, vendo que seu ganha-pão estava garantido, começaram a ficar cada vez mais tranquilos. Não se incomodaram em apresentar relatórios patéticos sobre as denúncias; em elogiar os investigados durante as próprias sessões da CPI; ou em mandar para o arquivo as suspeitas antes mesmo que elas fossem apuradas.

O caso do vereador Pastor Valdemir Soares (PRB) é exemplar. Sarrista, não deixava as investidas da oposição lhe preocuparem. Questionado sobre como dormia à noite depois de liderar diariamente o movimento pela engavetamento das ações, deu-se ao luxo de brincar. Disse que dorme tão bem que, se sua mulher não o chama de manhã, ele nem acorda. À vereadora Josete (PT), que cobrava um pouco menos de corporativismo, disse que não adiantava o "olhar 86" (que explicou ser um duplo "olhar 43"...), que ele não iria mudar de ideia. E ainda falou que por isso é o mais votado da Casa.

Alguns poucos vereadores pressionaram Derosso. Ou porque estão na oposição. Ou por acharem que há algo de errado por lá. Ou talvez pensando em ficar com os votos daqueles que esperavam uma postura mais combativa de seus representantes. Os outros não parecem ter se incomodado muito com o caso. Ficaram no canto, fingindo que nada daquilo era com eles. E seus eleitores? Alguém viu surgirem reclamações em massa sobre esse comportamento?

O risco que essa passividade dos curitibanos traz é de que a chance de mudar algo na Câmara passe batida. Esse seria o momento de reduzir o clientelismo, o patrimonialismo, de tentar ter uma representação mais decente, aumentar a fiscalização. Mas, não. Se o eleitor não ficar mais esperto, trocam-se apenas os nomes. E o esquema continua o mesmo.

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