1) A queda de um político que por uma década e meia conseguiu se manter no centro do poder de Curitiba é certamente um marco importante no cenário local. Não quer dizer, no entanto, que de uma hora para a outra tudo vai mudar na cidade. Enquanto os eleitores não tiverem uma vida razoavelmente tranquila (com creche, asfalto e posto de saúde funcionando), continuarão votando em quem tiver acesso ao prefeito para fazer o meio de campo e levar mais obras para o seu bairro.
2) Derosso era o sintoma, não a doença. Sua queda significa que os seus atos foram descobertos. Se nada mais for feito, porém, os seus sucessores logo se sentirão à vontade para voltar a fazer o mesmo. Dos 38 vereadores de Curitiba, quantos foram eleitos num esquema diferente do que levou Derosso para o poder? Quantos são eleitos por voto ideológico?
3) Derosso, é importante dizer, não caiu por pressão direta da população. Mesmo com nove meses de denúncias graves, não houve grandes passeatas, manifestos ou indignações dos eleitores (a não ser por protestos feitos por gente de partidos interessados diretamente em derrubar o presidente tucano). Ontem à tarde, primeiro dia do pós-Derosso em Curitiba, o vereador estava em 20.º lugar na lista dos itens mais comentados pelo Twitter em Curitiba. À sua frente, estavam o técnico do sub-17 do Coxa, Marquinhos Santos, Geisy Arruda e #happydayluansantana.
4) Até o ano passado, Derosso não enfrentava nem mesmo oposição para se reeleger presidente da Câmara. Exceto pelo excêntrico Professor Galdino, que parece não ter se dado conta de como as coisas funcionavam, nenhum candidato ousava enfrentar o dono do pedaço. Estavam todos satisfeitos com o que recebiam de seu representante? Por que mudaram de ideia só aos 45 do segundo tempo? Houve ordem unida?
5) A prova de que Derosso tinha uma fonte poderosa de poder foi o número de candidatos que surgiu no mesmo dia de sua renúncia. Foram pelo menos sete, sendo seis do bloco situacionista. Estavam todos interessados no posto, claro. Mas, antes, não se candidatavam. Qual era a origem do poder de Derosso? Quem ela irá apoiar agora?
6) A grande mudança que beneficiaria a Câmara seria haver um número maior de vereadores que atuassem como verdadeiros debatedores da cidade, e não como meros despachantes encarregados de convencer o prefeito a levar benesses para seus rincões. Hoje, a cidade está loteada. Se Derosso deixasse de se reeleger, a hipótese mais provável é de que alguém tivesse feito uma simples substituição, convencendo os eleitores do Xaxim de que o vereador está queimado, e de que outro poderia fazer o serviço melhor. Mas seria o mesmo serviço.
7) Apesar de tudo, os analistas dizem que o PSDB provavelmente não tomará nenhuma medida mais radical contra Derosso, como negar-lhe a legenda para a reeleição em outubro. Por enquanto, embora em baixa, o vereador tem a perspectiva de recomeçar e precisa manter seus aliados de sempre. Se perdesse essa perspectiva, poderia simplesmente sair atirando. E alguém que passou 15 anos no comando da Câmara deve saber muita coisa. De muita gente.