"Com o BC independente, para que eleger presidente?" O slogan é do governador Roberto Requião, dado a frases de efeito. Exageros à parte, a discussão sobre a independência do Banco Central é importante e deve ser uma das principais na política brasileira em 2010. É que no finzinho do ano passado a Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou um projeto que torna bem menor a influência do presidente da República sobre a economia do país.
A proposta original era do senador Arthur Virgílio. Foi relatada por Antônio Carlos Magalhães Júnior. E os dois estão do lado que quer dar mais autonomia ao Banco Central. Pretendem que o presidente do banco seja nomeado pelo Executivo, claro, mas que não possa ser removido do cargo pelo presidente, a não ser que o Senado aprove sua demissão. Além disso, o mandato (sim, mandato) do presidente do BC não seria coincidente com o do presidente. Assim, se a regra já estivesse valendo na época, Lula teria convivido por dois anos com a pessoa indicada por Fernando Henrique. E o próximo presidente teria de ficar, quisesse ou não quisesse, com Henrique Meirelles.
Quem gosta da ideia diz que economia é um assunto técnico, e que deixá-lo sob influência de políticos é um risco preocupados com as eleições, os presidentes podem se sentir tentados a tomar decisões que tragam efeito a curto prazo, mesmo que estejam comprometendo o futuro do país. Mais ou menos como se economia fosse algo importante demais para se deixar sob a influência diária dos patetas que elegemos para governar a nação.
O argumento pró-independência parece convincente. Mas, veja bem, há alguns problemas. Primeiro, a ideia central é que economia é um assunto técnico. Mas todos os grandes assuntos de um governo também o são. Ou alguém acha que a educação é menos importante e menos técnica? E o que dizer da saúde? Ou da infraestrutura? Será que devemos dar independência então a todos os ministros, com a possível exceção do chefe da Casa Civil?
A teoria da independência do BC surge do endeusamento da economia. Se déssemos à cultura o mesmo peso que damos à fazenda, pensaríamos em dar estabilidade e autonomia ao ministro da Educação. Mas nunca vi um político pensar nisso.
O segundo ponto que incomoda na defesa da independência é a desconfiança generalizada contra os políticos. Não podemos crer que elegeremos apenas e tão-somente populistas contra os quais precisamos desesperadamente nos proteger. Se for assim, é melhor mudar o sistema de governo. Prefiro crer que temos como eleger bons nomes e manter uma fiscalização cerrada sobre eles, é claro.
Por último, entregar o BC exclusivamente nas mãos dos técnicos significa tirar, em parte, o poder do povo sobre o rumo do país. A população, em última instância, é representada pelo presidente. E é ele que, em nome do povo, deve governar também a economia. Ou façam-se logo eleições para a presidência do BC. O que é estranho é confiar num presidente para nomear alguém, mas não para removê-lo do cargo. Que lógica é essa?
O poder deve estar o mais próximo possível do povo. E o mais longe possível da ditadura dos tecnocratas.
P.S.: A vizinha Cristina Kirchner é um exemplo da má gestão que dá argumento para quem quer a independência do BC. No entanto, governantes cometem erros em outras áreas o tempo todo. Nem por isso devemos defender o fim da influência do governo em cada setor a cada problema que houver em qualquer outro país.
Hugo Motta troca apoio por poder e cargos na corrida pela presidência da Câmara
Eduardo Bolsonaro diz que Trump fará STF ficar “menos confortável para perseguições”
MST reclama de lentidão de Lula por mais assentamentos. E, veja só, ministro dá razão
Inflação e queda do poder de compra custaram eleição dos democratas e também racham o PT