A Compra do Presidente. Esse é o título de um livro que, a cada quatro anos, uma ONG norte-americana publica. Trata-se de uma ampla reportagem mostrando quem bancou a campanha do novo mandatário norte-americano. Mais: a documentação mostra quais são as relações entre os financiadores e o poder público. Coisa fina.
Agora, com a internet, o Centro pela Integridade Pública, responsável pela publicação dos dados, já vai pondo no ar os dados disponíveis enquanto a campanha se desenrola. Quem quiser pode ver. Está em inglês no site www.buyingofthepresident.org. Vale uma visitinha
Por aqui, não há tanta informação disponível. Pela lei, os candidatos não são obrigados a dizer antes do fim da eleição quem foi que pagou suas contas. Só têm de dizer quanto gastaram. Ora, o que interessa de fato é saber os doadores. Por quê? Simples.
É como diz um dos mais importantes adágios da política. "Ninguém é candidato de si mesmo". Quem se lança para uma campanha só por vaidade, sem ter um grupo por trás, para dar apoio, está perdido. Não chega a lugar algum. O cara pode ser o candidato dos latifundiários, da militância de esquerda, dos taxistas, o que for. Mas é preciso representar alguém.
E o melhor jeito de saber quais grupos de interesse um candidato representa é ver quem está dando dinheiro para que ele se eleja. Não existe almoço grátis: ninguém dá grana a um comitê pelos belos olhos do candidato, e sim por imaginar que ele vá defender as causas de seu interesse.
Nas duas últimas semanas, durante as sabatinas com os candidatos a prefeito de Curitiba, a Gazeta do Povo tentou convencer os políticos a fazer a coisa certa: divulgar, durante o processo eleitoral, quem são os seus apoiadores. Assim, tudo ficaria às claras. Alguns atenderam ao apelo. Adivinhe quem: óbvio, aqueles que estão atrás nas pesquisas.
O líder absoluto na corrida, o prefeito Beto Richa, disse claramente que não deve publicar seus doadores. Gleisi Hoffmann, que aparece em segundo lugar, disse que pensava em divulgar. Mas, até agora, nada.
Na campanha de 2004, Richa foi bancado, entre outras empresas, pela Camargo Correia e pela administradora do Shopping Mueller. Depois da eleição, a empreiteira ganhou a licitação para fazer um dos lotes da Linha Verde e a administradora, que pretende abrir um shopping novo, viu a Pracinha do Batel ser cortada para facilitar o tráfego de carros na região. Pode ser coincidência, claro. Todos esperamos que seja.
O partido de Gleisi Hoffmann, o PT, chegou à reeleição para a Presidência da República, em 2006, tendo como maior financiadora a Andrade Gutierrez, sócia da Oi. Agora, a legislação brasileira está sendo flexibilizada para que a empresa possa comprar a Brasil Telecom. Mais uma vez, espera-se que se trate de mera coincidência.
Mas é para que isso tudo fique claro, e para que o distinto público possa entender e questionar as relações entre o poder político e o poder econômico, é que os candidatos deveriam prestar contas de sua atuação. Afinal, quem se nega a ter transparência agora, como poderá jogar aberto depois de eleito.
Fica aqui um apelo aos dois grupos. Ao prefeito Beto Richa e à candidata Gleisi: não se apequenem. Façam a coisa certa. Deixem o público saber em que grupo de interesses está votando.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura
Deixe sua opinião