Não há dúvidas: Beto Richa é no momento o político mais influente do estado. Neste ano, deu um baile na concorrência e não se contentou apenas com a própria reeleição no primeiro turno. Sua coligação teve o senador mais votado da história do estado, uma bancada na Assembleia gigante (com direito ao deputado estadual mais votado) e elegeu maioria de aliados para a Câmara dos Deputados. Além de tudo, o candidato do PSDB para a Presidência ficou em primeiro lugar no estado.
Interpretações para o fato há para todos os gostos. Cientistas políticos afirmam, por exemplo, que o eleitor optou pela continuidade, achando que a situação não está tão ruim quanto se propaga. (Nesse caso, o mérito do governador seria o de ter conquistado o cargo quatro anos atrás.) Quem não quiser conceder mérito ao PSDB, pode também dizer que houve maior demérito dos adversários. Mas isso por si só não explica muito.
Um dos fatos inegáveis é que Richa colocou mais uma vez em funcionamento a sua quase inacreditável máquina de articulação política. Começou a garantir a reeleição no ano passado, quando cooptou Ratinho Jr. (e por consequência Ratinho pai) para sua chapa. Deu mais um passo quando eliminou a candidatura do grupo de Ricardo Barros colocando Cida Borghetti como sua vice. Só nessa, levou três partidos e a família que domina a política de Maringá.
Com isso, Richa teve a seu lado 17 partidos, quase toda a Assembleia Legislativa, dois terços da Câmara de Curitiba e cerca de 300 dos 399 prefeitos do estado. Esse, na verdade, parece ser o segredo de seu sucesso. Richa ganha a eleição antes de o jogo começar, quando vai ao mercado e consegue colocar em sua cesta os mais variados líderes regionais e estaduais. Juntos, eles garantem tempo de tevê, dinheiro e influência nos municípios. Difícil competir com isso.
Para poder fazer isso, Richa toma o cuidado de não tomar qualquer posicionamento radical em sua agenda. Não se compromete com qualquer pauta ideológica que possa afastar alguém. Vai em busca do eleitor médio e do discurso neutro. Um discurso em que qualquer um possa se encaixar: os evangélicos do PSC, os ruralistas do PP e do DEM, os proponentes da "nova política" do PSB e do PPS. Beto surfa na onda dos partidos não ideológicos, como PSD e PMDB, e monta uma coligação cheia de pequenas estrelas.
Para atrair a todos, faz também o mesmo que critica em seus adversários petistas: o aparelhamento do Estado. Em sua primeira gestão, não houve quem tenha ficado insatisfeito. O DEM levou o Planejamento, o PPS ficou com a Casa Civil, o PSDB ficou com a Educação, o PMDB teve o Trabalho e assim por diante. Mas isso é só a parte mais visível. Nos cargos de segundo e terceiro escalão é que entram em grande escala os filiados, os amigos, os que nunca foram técnicos.
O grande desafio de Richa, agora, será manter unida a monstruosa coligação que ajudou em sua reeleição. Até aqui, teve sucesso. Certamente passa agora a sonhar com voos mais altos. Ao contrário do que acontece na física, nesse caso, quanto mais peso se carrega junto, melhor a chance de decolar. A não ser que o sujeito tropece nas próprias pernas e no jogo de xadrez que criou para si mesmo.
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