Um sábio jornalista me viu uma vez comemorando quando um político notoriamente corrupto foi indiciado pela Polícia Federal. Me disse ele: não devemos ficar felizes com essas coisas. Se o cara é inocente, está pagando pelo que não deve. Se é culpado, a gente tem mais é que ficar triste por ele ter feito uma coisa dessas. O conselho serviu para me deixar mais comedido. E fez eu me sentir meio mal com a minha crueldade.
Mas hoje, depois de acompanhar por um bom tempo a vida pública como jornalista, voltei a achar que eu estava certo de início. Indiciamentos, denúncias e cassações de mandatos são, sim, motivos para comemoração. Às vezes, até para euforia. É que, na verdade, a gente muitas vezes sabe que as coisas erradas estão acontecendo. E, claro, com isso devemos nos enraivecer.
Quando um dos caras sabidamente transgressores da lei cai, porém, a coisa é diferente. Estamos vendo um crime que todos sabiam ter ocorrido sendo, finalmente, punido. Mais triste eu fico quando, além do crime, há a impunidade. Que foi o que aconteceu com o político da história acima. Por uma tecnicalidade, o processo contra ele foi anulado. E ele continua por aí, com novos mandatos e novas denúncias. Mas isso é outra história.
Nessa campanha contra a impunidade, fiquei feliz da vida com a notícia de que, finalmente, policiais militares estão realmente sendo pegos quando há motivos para acreditar que eles abusaram de violência. Foi o que aconteceu nesta semana: o Ministério Público denunciou 13 integrantes da PM que, segundo os promotores, armaram uma cena para disfarçar um crime hediondo: a morte a sangue frio de cinco jovens.
Os cinco, segundo a versão inicial dos policiais, haviam, durante uma perseguição, atirado contra as viaturas. Os militares revidaram e, na troca de tiros, os cinco morreram. Infelizmente.
A ação lembra uma dúzia de outras. Quantas vezes ouvimos a mesma história. O criminoso resistiu. Houve troca de tiros. Ao lado do corpo, um revólver. Calibre 38. De numeração raspada. Nenhum policial se feriu no confronto. O básico da história é sempre o mesmo.
Dessa vez, porém, a coisa caminhou de forma diferente. Depois que os cinco corpos foram entregues no Hospital Cajuru, já sem vida, veio a primeira boa novidade. O governador Requião baixou uma determinação de que os policias não poderiam mais remover feridos para hospitais. É que sempre há a suspeita de que o cara foi pego vivo e acabou baleado no caminho do hospital. A ordem do governo impede um truque sujo conhecido por policiais de todo o país.
A seguir, veio outra notícia, mais bombástica. A investigação mostrou que os policiais pararam em um matagal antes de ir ao Cajuru. O GPS dos carros tinha a informação. E não houve, segundo mostram câmeras de segurança, tiros dados pelos perseguidos, que logo seriam mortos.
Tudo indica que prevaleceu a lógica antiga do "bandido bom é bandido morto". É claro que ainda é preciso esperar que a Justiça diga se foi isso mesmo o que aconteceu. Mas, se foi, é uma ótima notícia que tudo tenha sido descoberto. É excelente que a impunidade não prevaleça em um crime horroroso como é a morte de cinco pessoas.
Não acho que bandido bom seja bandido morto. É preciso seguir a lei, para que não viremos todos bárbaros, para evitarmos execuções sumárias e um mundo de selvagerias. Bandido bom é bandido indiciado, processado e preso. E, de preferência, regenerado.
Agora é esperar que a impunidade dos políticos também acabe. Quando isso acontecer, é claro, vou comemorar.
PS.: Essa coluna não será publicada nas próximas duas semanas. Volta no dia 9 de janeiro. A todos, feliz Natal e bom ano.
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