Cada político tem sua forma de sair dos apertos em que se mete. A fórmula mais famosa em anos recentes foi a de Lula, que dizia sempre não saber dos escândalos que aconteciam em seu governo. Tanto insistiu no uso do bordão que deu motivo para charges e ironias dos adversários. Aécio Neves, por esses dias, sempre que se fala em aeroporto e benefícios para sua família, insiste em que "já está tudo explicado". E ponto.
O governador Beto Richa tem lá também seu método. Consiste em dizer que "foi pego de surpresa" por uma afirmação. Foi o que alegou na semana passada, por exemplo. Questionado sobre o mágico número zero que apareceu em sua prestação de contas à Justiça eleitoral, saiu-se com um "não sabia". "Preciso dar um puxão de orelha no meu pessoal", disse. (Não estava desconfiado do número, e sim dizia que precisava de recursos para fazer a campanha.)
Nos arquivos de sites e jornais é possível encontrar uma miríade de vezes em que Richa disse o mesmo. Quando a Aneel autorizou o reajuste da tarifa de luz no mês passado, disse ter sido "surpreendido" (embora a Copel tivesse solicitado o reajuste). Quando um secretário seu deu declarações afirmando que o Atlético poderia dar o calote no dinheiro da Copa, disse ter sido "pego de surpresa". Ao saber que Ratinho Jr., seu secretário, anunciou subsídios para a tarifa de ônibus em Curitiba, usou a mesma frase: "Fui pego de surpresa com o anúncio dele. Quem vai fazer o anúncio sou eu." A lista podia se estender bem mais.
Alguém deveria dizer ao governador que não pega bem passar sempre por desinformado. Ainda mais sobre a própria gestão. É claro: o governo do estado é uma instituição enorme, e não é possível saber tudo o tempo todo. Mas saber o que seus secretários falam ou saber se há ou não dinheiro no caixa de campanha é obrigação. Em 2008, Richa reagiu do mesmo modo até mesmo quando descobriram fraude orçamentária em um comitê de sua campanha. Não sabia de nada, e portanto não podia ser punido.
O senador Roberto Requião reage de modo bem diferente. Quando apertado, abre caminho com a explosão do temperamento. Nessa campanha, já deu mostras do estilo ao interromper bruscamente uma entrevista ao vivo simplesmente porque não concordava com uma pergunta. Em outras ocasiões, já havia torcido dedo de repórter e sequestrado gravador de jornalista. Explicou o método em certa ocasião. "Amigo é amigo, e fdp é fdp". Quis dizer com isso que quem não está com ele que se cuide. E quem quiser criticá-lo que prepare o dedo e esconda o gravador.
Gleisi Hoffmann, dos três candidatos mais fortes ao governo do Paraná, é a que teve menos tempo no Executivo e ainda foi menos cobrada do que os outros dois. Quando correligionários passaram por problemas optou por dizer que não tinha nada com o assunto e deixou-os pelo caminho. Foi assim com Eduardo Gaievski, o assessor que levou para a Casa Civil e que foi acusado de assédio sexual, foi assim com André Vargas, o deputado petista que foi rapidamente obrigado a se desligar do partido quando foram descobertas suas ligações com o doleiro Alberto Youssef.
Pensando em termos políticos, estão os três meramente seguindo o conselho de Napoleão. "Em política, nunca recue, nunca se retrate, nunca admita um erro", dizia o imperador. O tempo de imperadores passou. Mas os políticos continuam incapazes de admitir que podem simplesmente errar, como qualquer um erra.
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