Na metade dos anos 90, o governo brasileiro forçou uma paridade insustentável entre o dólar e o real. Alguns ufanistas comemoraram o fato como se fosse um gol. Delfim Netto achou graça da coisa: "Pobrezinhos dos japoneses. Têm que pagar mais de cem ienes por um dólar".
Claro que o fato de um real valer um dólar não dizia, por si só, coisa nenhuma. O que realmente fez diferença, na época e até hoje, foi o fato de a moeda ser forte e estável. Mas os números costumam ter esse efeito sobre as pessoas. E a comparação feita às pressas quase sempre é enganosa.
É o que parece estar acontecendo com a história do PIB brasileiro. Nos últimos dias, divulgou-se que a soma das nossas riquezas em um ano ultrapassou a da Grã-Bretanha. Passamos a ser a sexta maior economia do mundo. Fantástico. Mas, resta repetir Delfim: pobrezinhos dos britânicos, que têm um PIB menor do que o nosso...
Claro que é bom que nosso PIB seja grande. Que cresça, melhor ainda. Mas a comparação com a Inglaterra é absolutamente ilusória. Primeiro porque o PIB, sozinho, é apenas a medida da soma de riquezas. Agora, divida isso pela população... Para cada britânico neste mundo, há três brasileiros. Ter uma riqueza igual à deles significa, no máximo, que eles têm, individualmente, três vezes o que cada um de nós tem. (Se fôssemos nos basear pelo PIB, seria muito melhor viver na Índia do que na Noruega, por exemplo.)
Mas a coisa é mais grave: a riqueza que temos ainda é tremendamente mal distribuída. Nisso, não estamos apenas atrás dos coitados dos britânicos. Nossos índices são piores do que os de Zâmbia, Ruanda e Albânia. Ou seja: a maioria dos brasileiros não têm, na verdade, um terço do que um britânico tem.
E é preciso lembrar ainda que nosso PIB nem tem crescido tanto assim nos últimos anos, com a admirável exceção de 2010. Na verdade, o nosso desempenho não tem sido suficiente para deixar o país significativamente mais rico. Os britânicos, pelo contrário, é que andam patinando um pouco. Foram ultrapassados menos por nosso méritos do que pelos problemas deles.
É claro que subir no ranking é bom. Melhor do que descer, em todo caso. E o país tem tido bons resultados em diminuir (pelo menos um pouco) a desigualdade e a pobreza. Mas não dá para ninguém se enganar e achar que em breve estaremos no melhor dos mundos sem fazer nada mais do que está sendo feito.
O próprio ministro da Fazenda, Guido Mantega, aproveitou-se para criar uma nova mistificação. Logo após o anúncio do PIB, Mantega disse que em 20 anos teremos o padrão de vida de europeus. Obviamente, uma mentira. Um país não muda tanto em 20 anos, nem com pré-sal, nem com Bolsa Família, nem com nada.
A melhora do Brasil até vem ocorrendo. É possível que, um dia, isso nos leve a algum lugar melhor, sem pobreza, pelo menos sem miséria. Mas dizer que isso está logo ali na esquina é mera campanha eleitoral.
Enquanto nossa educação continuar na rabeira dos índices internacionais, o fato de nosso PIB ser maior do que o dos outros parecerá apenas uma notícia distante, que anima economistas e desavisados.
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