A desculpa mais esfarrapada de que eu tinha notícia até hoje partiu da assessoria de imprensa de uma cantora-celebridade. A menina, recém-saída da puberdade, foi vista em uma clínica de cirurgia plástica. Saiu de lá no dia seguinte. Os jornalistas pediram a confirmação de que ela teria implantado silicone nos seios. A resposta da equipe da cantora foi um primor de criatividade. Disseram que ela havia passado a noite na clínica, mas por outra razão. Tinha ido visitar uma amiga. Perdeu a hora e, como ficou tarde demais, resolveu dormir por lá mesmo.
Pois bem. Nesta semana, nossos ilustres deputados estaduais entraram na disputa pelo troféu das desculpas absurdas. A Gazeta do Povo protocolou um pedido na Assembléia Legislativa. Solicitava uma informação simples: a lista de funcionários atualizada. Conforme registrou a reportagem de Daniela Neves publicada ontem, porém, a resposta se baseou no mais insólito argumento imaginável. A Assembléia não pode informar o nome de seus funcionários para garantir o direito à privacidade. Hein? Como assim?
Privacidade, por definição, se aplica àquilo que acontece na vida privada. Os funcionários da Assembléia Legislativa são funcionários públicos. E o que é público, obviamente, não é privado. Somos nós que pagamos seus salários. E temos o direito de saber quem são, quanto ganham, o que fazem e há quanto tempo trabalham lá.
O fato é que o Legislativo paranaense parece ter horror a atos de transparência. Basta uma breve visita ao site www.alep.pr.gov.br para se ter uma noção do problema. Não se consegue acesso ao Diário da Assembléia. Não há informações sobre gastos. Os relatórios mais recentes sobre gestão fiscal publicados são referentes a 2005. E, obviamente, não há qualquer lista de funcionários da Casa.
Que fique bem definida uma coisa: os deputados são homens públicos. Se não quiserem prestar contas de seus atos têm duas escolhas. A primeira é deixar o cargo. A segunda é continuar inventando desculpas esfarrapadas. Qual eles escolherão?
P.S.: O nome da cantora-celebridade foi omitido de propósito. Ela, que pagou a cirurgia nos seios com o próprio dinheiro, tem direito à privacidade sobre o fato.
A famigerada CPMF
Ninguém gosta de pagar imposto. O dinheiro já é curto e ainda temos que entregar uma boa parte para o governo. Mas o escândalo nacional sobre a CPMF me parece um pouco exagerado. Vejamos. Primeiro, acho que o problema não é o governo cobrar imposto demais. Em um país socialmente injusto como o nosso, o modelo correto seria justamente esse: cobrar mais para distribuir melhor.
O problema, portanto, é fazer pouco com o que é arrecadado. Segundo: por que se reclama mais da CPMF do que do Imposto de Renda, por exemplo? O IR consome até 27,5% enquanto a CPMF fica em 0,38%. Parece que o problema que revolta boa parte da nossa população é que o Imposto de Renda de quem ganha muito não é retido na fonte. E sempre se dá um jeitinho de pagar pouco ou mesmo nada.
É só ver o quanto nossos bancos pagam de IR. Agora, a CPMF não dá para sonegar. Aliás, como curiosidade: você já reparou que normalmente quem reclama da CPMF é quem ganha muita grana?
Dia sem Carro
A prefeitura de Curitiba praticamente abandonou a idéia do Dia sem Carro. O evento é comemorado hoje, dia 22 de setembro, no mundo todo. Aqui, já se chegou a bloquear ruas centrais para levar a população a entender a importância do transporte coletivo. Desta vez, nada. E cada vez mais a cidade vai ficando congestionada. Perde a cidade e perde a prefeitura, que deixou de fazer a sua parte.
Nova coluna
A partir de segunda-feira, a coluna Conexão Brasília, assinada pelo jornalista André Gonçalves, sairá semanalmente no caderno Brasil.
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"Quando estou no exterior, me obrigo a nunca criticar ou atacar o governo do meu próprio país. E depois compenso o tempo perdido quando vou para casa."
Winston Churchill, primeiro-ministro inglês.
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