O ministro da Defesa Nelson Jobim está prestes a fazer um desfavor para o país. E fez questão de anunciar isso. Claro, disse-o com outras palavras, como se estivesse por empreender uma jornada heroica em nome do povo brasileiro. Mas o que Nelson Jobim quer fazer, afinal? Ele afirmou que vai pedir ao presidente Lula que vete um dos pontos mais importantes da minirreforma eleitoral recém-aprovada no Congresso Nacional.
A reforma obriga a Justiça Eleitoral a imprimir 2% dos votos depositados nas urnas eletrônicas. O objetivo é claro: a ideia é poder recontá-los em caso de dúvida. Se houver suspeita de fraude, é possível pegar os tíquetes que contêm a versão impressa dos votos e ver se o sistema funcionou a contento. Simples e importante.
O maior problema dos votos eletrônicos sempre foi o de que é preciso haver confiança completa no sistema. É que, depois que o sujeito votou, babau. Não tem mais como se saber se o que ele digitou foi realmente o que entrou na urna. Recontagem? Impossível. O registro está lá, gravado, e não há nada que se possa fazer.
Aí o Tribunal Superior Eleitoral diz que as urnas são totalmente seguras. Aliás, o presidente do tribunal, ministro Ayres Britto, diz que a volta do voto impresso é um "retrocesso". Concorda com o ministro Jobim. Mas a diferença é que Jobim pretende fazer alguma coisa sobre o assunto. Na Defesa hoje, Jobim já foi presidente do TSE e se vê no direito de opinar sobre urnas eletrônicas.
O Senado fez um seminário recentemente sobre a necessidade de impressão dos votos nas urnas eletrônicas. O ponto alto foi o depoimento de Jorge Stolfi, do Instituto de Computação da Unicamp. "A impressão não cria novas modalidades de fraude e elimina esse tipo de fraude centralizada, por atacado, a mais perversa", disse ele.
Impressão de votos é uma questão de segurança nacional. Todos deveriam ser impressos. O eleitor conferiria se o nome de seu candidato é mesmo aquele em que ele queria votar e depositaria na urna ao lado. Sem chance de erro. E, em caso de necessidade, haveria como fazer a recontagem.
Eleições eletrônicas não são à prova de erro. No Brasil, temos tido bons resultados. Mas já houve vários registros de erros em urnas. Em Alagoas, na eleição de 2006, sumiram votos e o registro das urnas, depois de feita uma investigação, era estranhíssimo. E não havia como fazer conferência de votos.
O Senado derrubou a chance de termos 100% dos votos impressos. Já fez a sua cota de desfavor para o país. Agora o ministro Nelson Jobim pretende terminar o trabalho e eliminar a pontinha de segurança que nos sobrou, com os 2% de votos impressos para conferência.
Tomara que o presidente Lula não lhe dê ouvidos. Ou precisaremos torcer, a cada dois anos, para que o sistema funcione. Caso contrário, quem garante o resultado das nossas eleições?
Hackers
Para garantir a confiabilidade das urnas eletrônicas, o TSE está cadastrando hackers do país todo que se disponham a tentar invadir o sistema eleitoral. Basta passar por sites da comunidade de informática para ver que os verdadeiros hackers consideram a proposta uma brincadeira. Quem sabe como fazer isso não vai fazer registro no TSE. Ainda mais porque o tribunal exige que o fulano depois conte como conseguiu fazer algo, caso consiga invadir o sistema. E isso os hackers de plantão não parecem muito interessados em contar para o governo.
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