Há pelo menos dois motivos diferentes para se rejeitar um governo. O primeiro é achar que ele está fazendo algo totalmente errado – como bater em professores em praça pública ou dilapidar o patrimônio do funcionalismo para cobrir as contas do mês a mês. O outro é rejeitar uma administração simplesmente por não saber, nela, o que há para se aprovar. É a rejeição pela falta do que se admirar.
Beto Richa é um exemplo clássico do primeiro tipo. Se chegou aos 84% de rejeição na última rodada de pesquisas foi basicamente por fazer aquilo que qualquer um dotado de um mínimo de juízo consideraria inaceitável. O segundo governo de Richa transmitiu uma mensagem clara: para fazer aquilo que considerava imprescindível (ajustar as próprias contas), passaria por cima de tudo: não só da oposição como também dos direitos humanos, das prerrogativas democráticas e da integridade física alheia.
Gustavo Fruet parece ser um nítido exemplo do segundo caso. O prefeito não foi pego batendo em professores – pelo contrário, a prefeitura acolheu os feridos produzidos pelo Palácio Iguaçu. Até aqui, não foi pego em nenhum escândalo de corrupção. Não disse nada que não devia. Não fez nada de errado. Mas para uma grande parcela da população, passa a impressão de que também não fez nada de certo. Corre o risco de colar nele a imagem do “não rouba, mas não faz”.
Fruet ainda tem um ano e pouco até a tentativa de reeleição. E seus assessores dizem que a rejeição de 62% é reversível. Até veem o copo meio cheio – pelo menos a popularidade parou de cair. Para melhorar a situação daqui até outubro do ano que vem, apostam, seriam necessárias três coisas básicas: comunicação (para mostrar o que já foi feito); manutenção (para não deixar a cidade desandar); e conseguir dinheiro (para obras maiores).
O problema de manutenção, do ponto de vista da opinião da população, talvez seja o mais visível. Nas ruas, é o que se ouve: mato crescendo, asfalto com buracos, coisas do gênero. E quem não tem dinheiro nem para isso, como pode pensar em fazer algo maior? O truque, aqui, seria diminuir as despesas e apostar em aumento de arrecadação. Daí a tentativa de cobrar dívidas de impostos passados, mandando todo mundo para protesto, por exemplo.
Já a estratégia de dizer que a falha é de comunicação perpassa todos os governos que vão mal de popularidade. Na prefeitura, como em qualquer palácio, a impressão é de que o trabalho é bem feito – falta a população ficar sabendo disso. É o que pensam os assessores de Fruet. O discurso é de que, por exemplo, ninguém na cidade sabe que a atual gestão fez 8 mil casas, mais do que a administração de Richa/Ducci.
É claro que toda gestão faz coisas boas. E tudo bem que a comunicação pode ter falhado. Mas boa parte da impressão de que a administração precisa melhorar não vem de quem está sentindo falta de notícia no jornal. E sim de quem está sentindo na pele, nos bairros, a falta de avanços e – pior – problemas em serviços básicos, como a roçada e o transporte coletivo. Para o povão, mais do que informação, falta atendimento.
Com a economia em baixa e dívidas herdadas da gestão anterior, claro que é difícil cobrar que tudo seja feito em quatro anos. Mas problemas essenciais continuam exatamente onde estavam antes de 2012 – a licitação do lixo não saiu, não se abriu o primeiro centímetro de túnel de metrô, a Linha Verde não foi concluída, os ônibus seguem cheios. E muito do que se faz, com ruas pintadas para que passem bicicletas e uns pouquíssimos quilômetros de faixa exclusiva para ônibus, soa mais como perfumaria do que como real solução para os problemas da cidade.
Este colunista tira cinco semanas de férias. No período, o espaço será ocupado por Chico Marés.