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Enquanto foi governador de São Paulo, Mario Covas nunca abriu mão de uma informação. Ao fim de todos os dias, ele fazia questão de olhar o caixa do estado. No seu segundo mandato, quando ficou doente, praticamente teve de abandonar o posto, deixando tudo a cargo de seu vice, Geraldo Alckmin. Mesmo assim, fazia com que alguém lhe levasse no papel a movimentação financeira do dia.

Sempre achei que o que mais falta a nossos administradores é esse espírito de comerciante competente. É preciso cuidar das coisas do Estado como se cuida de uma lojinha de esquina. Ou, como diz a sabedoria popular: é o olho do dono que engorda o boi. Mas a maioria dos governantes prefere deixar em segundo plano a fiscalização e o cuidado com o caixa. Antes, vem a preocupação com os discursos. Antes, vem o gosto pelas inaugurações.

E é quando o sujeito descuida do dia a dia da administração que o bicho pega. É aí que nascem as desculpas ao público do gênero "não sei do que estão falando". O caso mais famoso no Brasil foi o do presidente Lula, no mensalão. O mais célebre no mundo é o de Richard Nixon, que negou qualquer envolvimento com Water­­­gate até cair do governo.

Por essas terras, estamos também aprendendo a conviver com situações do mesmo gênero. O prefeito Beto Richa já havia usado a desculpa no caso dos dissidentes do PRTB. Não sabia de nada. Se houve algo de errado em sua campanha, ele não tem nada a ver com isso. E, agora, de novo com o problema dos radares da cidade.

Nesta quinta-feira, pela primeira vez Richa se pronunciou publicamente sobre os equipamentos, que segundo decisão judicial já deveriam estar desligados desde a segunda-feira passada – só não estão porque a Urbs discorda de todos os juristas ouvidos pela imprensa e acha que pode manter tudo funcionando enquanto apresenta recurso no tribunal.

O problema dos radares surgiu da demora em fazer uma nova licitação. A Consilux, que opera o sistema desde o início, vinha ganhando aditivos para o contrato desde quando ganhou a última concorrência, em 2004. O prazo limite estourou. E a Urbs disse que não teve tempo de terminar o novo processo de seleção. Sabe como é: prazos, contestações, etc. Mas o fato é que a Urbs teve anos para começar a licitação. E só começou em fevereiro, dois meses antes de o contrato acabar.

Pois bem. Aí entra o prefeito. Diz em público, depois de o problema ter estourado, que vai investigar se houve "um cochilo" da Urbs ou da Diretran. Ou seja: traduzindo, o que Richa quer dizer é que, se houve erro de administração (e o Tribunal de Justiça diz de forma claríssima que houve), não foi dele. E sim de alguém no primeiro, talvez no segundo escalão.

Mas espere aí. O prefeito não deveria estar de olho nisso? Claro, a administração de uma metrópole como Curitiba é complexa, e ninguém dá conta de saber de tudo ao mesmo tempo. Mas há pequenas minúcias, que podem ser esquecidas. E há problemas grandes, que afetam a cidade toda, que estão todos os dias no jornal. Caso dos radares e caso da Ca­­­ximba, entre outros.

Como é possível delegar algo desse tipo a tal ponto que nem mesmo se saiba o que está ocorrendo? A investigação de agora, se houver, é tremendamente bem-vinda. Mas o problema poderia ter sido evitado antes. Se alguém estivesse cuidando da lojinha, tudo iria melhor.

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