Osmar Dias tem não apenas um candidato a vencer nesta eleição. Se quiser chegar ao governo do estado, além de ganhar de Beto Richa precisará também vencer um tabu: os prefeitos de Curitiba têm sido imbatíveis na disputa pelo Palácio Iguaçu.
Veja o histórico: nos últimos 20 anos, apenas ex-prefeitos da capital chegaram ao governo. Três vezes o eleito foi Requião. Duas outras, Jaime Lerner. O último governador vindo de outra região do estado foi justamente o irmão de Osmar, o senador Alvaro Dias.
Mas não é só isso. Analisando todas as eleições paranaenses desde a volta da democracia, percebe-se que apenas uma vez um político do interior venceu um de Curitiba na disputa pelo governo. (Alvaro ganhou sua eleição contra Alencar Furtado, outro candidato saído do interior.)
A exceção foi, curiosamente, o pai do candidato Beto Richa. Em 1982, José Richa chegou ao governo depois de derrotar Saul Raiz, que havia recentemente deixado a prefeitura de Curitiba. Mas o caso tem uma explicação diferente. Na época, a ditadura estava em plena derrocada. E qualquer candidato do PMDB (caso de Richa pai) ganharia de um do PDS (caso de Saul Raiz).
Depois, o dilúvio. Em 1990, o curitibano Requião enfrentou uma dupla do interior: Richa pai e Martinez. Saiu do terceiro lugar nas pesquisas para a vitória. Em 1994, Lerner, três vezes prefeito, enfrentou o favorito Alvaro. Dizia-se que Lerner não era conhecido no interior, que jamais venceria. Venceu.
Em 1998, o único duelo curitibano da série. Lerner bateu Requião. Em 2002, Requião representava Curitiba contra Alvaro, do interior. Ganhou o curitibano. Em 2006, novamente Requião contra um representante do interior. Dessa vez, Osmar. E, quem diria? Venceu o curitibano.
A população de Curitiba por si só não é suficiente para explicar o fenômeno. Menos de 20% dos eleitores do estado moram na cidade. Contando a região metropolitana, chega-se a pouco mais de 30%. Mas nada que forme maioria, nem perto disso.
Outros fatores podem contar. Primeiro, a predominância econômica da capital, muito mais forte do que a populacional, por exemplo. Ou o fato de que o interior do estado é pulverizado demais. Um candidato conhecido em uma região não necessariamente é forte em outra. E fica difícil construir uma maioria assim.
Ou talvez seja mera coincidência. Mas fica cada vez mais difícil acreditar nisso. Beto Richa, por exemplo, não consegue abrir vantagem sobre o adversário no interior. Mas na capital chegou a abrir 62% a 27% contra Osmar Dias. Uma diferença que pesa no geral do estado.*
Sherlock Holmes, o genial detetive da ficção britânica, dizia que, se algo acontecer duas vezes, pode ser coincidência; na terceira, não. É só uma frase de efeito, claro. Mas, no Paraná, a mesma história vem se repetindo há pelo menos duas décadas. Deve ser algo mais do que isso. O que será que as urnas dirão desta vez?
* Dados de pesquisa Ibope encomendada pela RPC e realizada entre os dias 2 e 4 de agosto. Foram ouvidas 1.008 pessoas. A margem de erro é de 3 pontos porcentuais para mais ou para menos. Registro no TSE número 21.696/2010.
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