Rafael Greca conta que em 1996, prestes a deixar a prefeitura, tinha um favorito à sua sucessão. Era Augusto Canto Neto – e não Cassio Taniguchi. Chamou o escolhido de canto e disse que o apoiaria. Como se sabe, não deu certo. “Ele colocou o charuto na boca e ficou fazendo pose de prefeito.” Moral da história: quem quer ser prefeito precisa trabalhar duro para isso.
Vinte anos depois, Greca está seguindo seu próprio conselho. Decidiu que quer ser prefeito e que para isso precisaria cumprir uma lista de tarefas. A primeira era sair do PMDB, onde Requião o engoliria. Saiu. A segunda era arranjar apoios. Conseguiu nada menos do que o governador do estado e o último prefeito da capital. Para isso, claro, fez o que em política sempre se faz: acordos. Nada de charutos – para ser prefeito, resolveu pôr a mão na massa.
Greca também tirou do armário as duas armas de que dispõe por conta própria. O passado e a oratória. A equação é dizer que no seu tempo a cidade era a glória, que no presente é uma lástima, mas que em breve os dias de bonança voltarão. Um discurso quase religioso, escatológico: o pecado nos levou às trevas, mas a salvação está a nosso alcance. O Ibope mostra que a conversa funciona às maravilhas.
Apostar no saudosismo (de algo real ou ilusório) é sempre uma opção fácil. O eleitor tem a tendência a acreditar numa era de ouro. Greca tem o dom de criar um passado brilhante, em que as fontes jorravam mel e o asfalto era liso como seda. Conta sempre o caso de quando um banqueiro internacional, guiado por Margarita, foi conhecer as obras sociais para os pobres. “Chega!”, teria dito. “Isso já não é uma cidade, é uma ópera!”
Há quem creia na frase. Há quem creia na cidade. E, segundo o Ibope, quem mais crê são justamente os eleitores mais velhos, os mais saudosos. Greca tem 22% da preferência entre os jovens de 25 a 34 anos. Mas entre os eleitores acima de 45, chega a 34%, seu melhor índice. Isso não é tudo.
Outro fenômeno curioso é a redução da rejeição à sua volta. Em 2012, no início de agosto, o Ibope perguntou quantos eleitores não votariam de jeito nenhum em Rafael Greca. O resultado dele foi o pior entre todos os candidatos: 32%. Agora, quatro anos depois, o número diminuiu para menos da metade: 15%. E não foi por mágica.
O que aconteceu nesses quatro anos foi a prefeitura de Fruet, um sujeito que passou sua gestão explicando que o mar não estava para peixe e que não seria mais possível a gastança dos antecessores. A bonança tinha acabado, em parte porque os seus antecessores tinham sido gastões – sem contar a maré pra lá de ruim da economia.
Essa eleição vai ser uma guerra dos dois discursos. De um lado, Greca diz que “se está difícil para Fruet”, ele assume e faz o que é preciso. Fruet afirma com todas as letras que o nome disso é demagogia: pelo menos por enquanto, a cidade não voltará a ser o que era. Pode até ser que Fruet tenha razão, o futuro dirá. Mas não há dúvida de que sua mensagem é a mais tediosa que um candidato jamais ousou pronunciar em frente às câmeras de tevê.
O saudosismo, por enquanto, leva a melhor. O curitibano está apostando que a fonte dos anjos, no fim da Sete de Setembro, passará a jorrar mel em 1.º de janeiro.
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