A mansão do crime estourada na semana passada fica a nove quadras de um local simbólico da campanha de Beto Richa (PSDB) para o governo do estado. O Centro de Referência de Assistência Social do Parolin foi palco de um discurso de Fernanda Richa pedindo votos para o marido em maio de 2010. Como a campanha ainda estava proibida, a primeira-dama tomou uma multa da Justiça Eleitoral.
O principal argumento usado por Fernanda para pedir votos, na ocasião, era a melhoria que o marido traria para a segurança pública. "Essa polícia está aqui desde a época em que meu sogro [José Richa] foi governador. É o mesmo número de policiais. Não aumentou um policial, não houve uma capacitação", dizia a inflamada primeira-dama municipal, que lutava para ser primeira-dama estadual.
"Se Deus quiser, se Deus quiser e as pessoas ali daquela vila tiverem um pouco de bom senso, no ano que vem, além de a gente fazer concurso, chamar muito mais policiais, capacitar, dar condições de dar segurança para a gente, a vila vai poder mudar. Caso contrário, nós vamos ficar nesse sofrimento", disse Fernanda.
Desde lá, algumas coisas mudaram. Richa foi mesmo eleito governador. Fernanda foi condenada a uma multa de R$ 5 mil e virou secretária de Estado. Houve realmente a contratação de mais policiais. No entanto, os fatos da semana passada mostram que uma melhoria significativa na segurança pública ainda está distante.
Veja o que os fatos sobre a mansão do Parolin indicam:
1 - Que havia uma casa de luxo usada para atividades ilegais. Jogo e prostituição em plena área central de Curitiba.
2 - A polícia havia sido informada em novembro que o crime rolava solto, inclusive com a possibilidade de uso de drogas. Nada fez.
3 - Que um grupo de policiais encapuzados invadiu o local sem autorização da chefia e mostrou ao distinto público que as denúncias tinham razão de ser.
Os chefes da segurança pública dizem que os tiras agiram como milicianos. Num ponto têm razão. Não dá para deixar as coisas acontecerem assim. Cada policial faz o que tem vontade e invade o que quiser usando um capuz para não ser investigado. Este é o caminho para a barbárie.
Os policiais, porém, dizem que só fizeram isso para mostrar que há "santuários" protegidos por seus superiores. Invadiram para dar um recado: se não fizerem o que o baixo clero da polícia quer, os amigos dos delegados e dos superiores vão sofrer as consequências. Na verdade, nem de longe isso melhora a situação dos policiais, que passam a chantagistas o raciocínio lógico é que, se derem o que eles querem, todos voltarão a ser coniventes.
Mas a coisa fica feia para a cúpula da polícia. Ou realmente alguém fez vista grossa para a casa e há dezenas do mesmo tipo por aí, o que poderia mostrar que realmente existe acobertamento. Ou perdeu-se completamente o controle sobre os policiais. Um belo jeito de mostrar que tudo ocorrerá como deve seria fechar outros lugares do mesmo gênero, dessa vez com autorização e ordem da chefia. Se tudo continuar como estava, o acobertamento ficará visível.
No fundo, o que a população quer é que a promessa de Fernanda seja cumprida, mesmo tendo sido feita de maneira ilegal. O povo quer confiar na polícia. Mas, do jeito que está, fica bem difícil.
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