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Uma comédia dos anos 80 brincava no cinema com a vida de Albert Einstein. A uma certa altura, o jovem Einstein mandava uma carta para sua mãe, contando as novidades. Dizia que havia descoberto coisas importantíssimas, como avanços na física newtoniana e a possível fissão do átomo. No fim, escrevia: "P.S.: conheci uma garota". A senhora Einstein largava a carta e dizia, feliz da vida: "Albert conheceu uma garota!".

Andaram chamando o presidente Lula de "extravagante". Isso por causa de um discurso que ele fez sobre a crise econômica mundial. Disse que os empresários que sempre pregaram o Estado Mínimo agora, quando a coisa apertou, recorreram ao Estado para salvá-los. Comparou os empresários a adolescentes, que pensam não precisar mais dos pais, mas que quando têm uma gripe, uma diarréia, voltam correndo para a casa dos pais.

A extravagância estava nas palavras. Diarréia, por exemplo.

Curioso é que se deu muito mais destaque a isso do que ao conteúdo do que Lula estava falando. E o conteúdo é bastante sério: estamos diante de uma disputa que já dura pelo menos um século entre dois modelos possíveis de governo. Em última análise, entre dois modelos possíveis de mundo.

Em um deles, a coletividade, representada pelo Estado, é mais forte, age mais, tenta dar mais oportunidades a todos, tornando a vida de ricos e de pobres menos desigual. Em outro, há mais individualismo, e o Estado é visto como um mastodonte, um elefante branco e gastador que apenas atrapalha o bom andamento das coisas; é apenas um estorvo para "a mão invisível do mercado".

O problema é que, como mostra a atual crise, o mercado não é capaz de resolver seus próprios problemas. A mão do mercado se tornou bastante visível quando bateu no cofre do governo para pedir socorro. Um socorro bilionário, aliás. De GM a Ford, passando por empresas brasileiras que perderam milhões em operações de risco no fabuloso mercado, todos queriam uma fatia dos impostos para se pôr de pé novamente.

Veja bem: é esse mesmo pessoal que instala "impostômetros" nas ruas das grandes cidades, para lembrar que o governo arrecada demais. Aliás, particularmente acredito que seria mais útil instalar um "sonegômetro" para verificar quanto os empresários deixam de contribuir para a diminuição de desigualdade no mundo.

Agora, esse mesmo pessoal está ávido para colocar a mão nos impostos que tanto questiona. E a extravagância, diz o apresentador, com certa ironia malcontida, é a do presidente. Imaginem, o presidente falar em dor de barriga, ou usar o termo "sifu"...

Sei não, mas acho que esse é o tipo de jornalismo que se esqueceria de noticiar a Teoria da Relatividade. Não pareceria uma discussão relevante, talvez. Botaria todos os seus esforços em noticiar o que realmente parece importante: o jovem Albert está para se casar.

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