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O caso de Eliana Tranchesi, a famosa dona da Daslu, merece ser estudado futuramente. Ou melhor, merece ser estudado o quanto antes, se quisermos saber o país que somos. Na semana que passou, Eliana, condenada à prisão por crimes de sonegação fiscal e formação de quadrilha, entre outros, se transformou em mártir nacional.

A julgar pelo que a grande imprensa noticiou, muito especialmente as revistas semanais, Eliana Tranchesi deveria entrar para o livro de heróis da pátria. Sua efígie deveria estar impressa em notas de dinheiro. As criancinhas deveriam estudá-la na escola primária. A empresária foi vítima de um grande engano. Ora, tenham dó.

O fato de a maior parte da imprensa se unir para dizer que a pena de 94 anos é um absurdo diz muito sobre nossa imprensa. E sobre nosso país. Sonegar imposto, aqui, nunca foi considerado um crime grave. Para grande parte da nossa imprensa, não parece nem mesmo que isso deva se enquadrar como um crime. É um delito menor, digamos. Um deslize a que damas e cavalheiros de estirpe podem se dar ao luxo de vez em quando. Afinal, nossa carga tributária é muito alta. O Estado é grande demais. Um pouquinho de imposto a menos é até saudável, decerto...

Eliana Tranchesi foi considerada vítima ainda maior pelo fato de enfrentar, neste momento, uma doença grave, um câncer. Realmente, o câncer é uma doença terrível, que não se deseja nem ao pior inimigo. Nem a um criminoso.

Mas ontem, a voz da razão finalmente falou. E foi pela boca do secretário de Fazenda de São Paulo, Mauro Ricardo Costa. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, ele declarou que os 94 anos a que a empresária foi condenada são pouco (desde que as provas contra ela sejam consistentes, como parecem ser). E explicou o porquê. Quem sonega está tirando dinheiro da saúde, da educação, da segurança pública. Está tirando dinheiro que deveria, inclusive, salvar pessoas que precisam de tratamento contra o câncer na rede pública de saúde.

"Quem sonega está prejudicando não só uma pessoa, mas toda a população", afirmou o secretário. No final, exagerou. Disse que os sonegadores não deveriam nem ser presos. Deveriam ser crucificados. Há países em que isso não pareceria estranho. Na China, por exemplo, políticos acusados de corrupção (que estão igualmente se beneficiando de dinheiro que deveria ser público) são presos, não executados.

Mas não. Estamos em um Estado de Direito, não em uma ditadura. A prisão está de bom tamanho. Serve para alertar os nossos políticos, nossos empresários, nosso primeiro escalão de que com o dinheiro público não se brinca.

Querer a punição da dona da Daslu não é o mesmo que desejar o fim do luxo. Não é o mesmo que decretar que os ricos devem ser punidos pelo que possuem. É, sim, exigir que os ricos, para bancar seus luxos, não passem por cima dos outros. E que cumpram minimamente com a sua função social, pagando os impostos que devem sobre o que ganham. É assim que faremos surgir um país melhor.

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