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O relatório do Tribunal de Contas sobre os descalabros da Câmara de Curitiba é sensacional. Publicado por esta Gazeta desde o domingo, em textos dos repórteres Katia Brembatti e Karlos Kohlbach, o documento do TC mostra problemas sérios. Vereadores (inclusive o líder do atual prefeito na Câmara, Pedro Paulo) teriam se beneficiado de verba pública para promoção pessoal. Ninguém sabe onde foi parar o jornal da vereança, também pago com o nosso suor. Não se acham as notas fiscais relativas aos gastos de R$ 6 milhões com gráficas...

Da parte da Câmara, resta acreditar que a nova gestão e os novos vereadores vão dar conta de mudar o tétrico panorama deixado pela gestão anterior. Cabe a todos os possíveis fiscalizadores, incluindo você, caro leitor, ficar em cima deles para não deixar que tudo se repita. Os indícios são bons até o momento. Houve corte de gastos, principalmente na publicidade, e redução drástica de comissionados, ainda que a pedido do Ministério Público. É um começo.

Mas talvez seja o momento também de falar do outro lado. De falar do próprio Tribunal de Contas. Afinal, os escândalos dos vereadores vinham se arrastando há bastante tempo. Os contratos com as agências de publicidade que deram motivo para a investigação atual têm quase sete anos já. E, nesse período, o Tribunal de Contas fez exatamente o que para impedir que as coisas chegassem onde chegaram?

Pelo contrário, como faz sempre, o tribunal deixou que as contas fossem aprovadas ano após ano, sem que se ouvisse um único soprar de trombeta para alertar sobre os indícios de problema na papelada. Se alguém tivesse visto isso lá atrás, em 2006, por exemplo, quanto do nosso dinheiro poderia ter sido economizado? Quanto de nossos impostos poderia ter tido melhor fim?

A prática do Tribunal de Contas, no entanto, tem sido outra. Em princípio, tudo é aprovado. Depois do escândalo, aí sim volta-se atrás e vê-se o que havia de errado e que virou público. Não é coisa de hoje.

No caso de Jairo Gianoto, prefeito de Maringá entre 1997 e 2000, mais de uma década atrás, já foi assim, para ficar apenas em um exemplo. Depois de Ministério Público e imprensa terem detonado o escândalo que levou Gianoto a perder o cargo, o então presidente do tribunal, Rafael Iatauro, convocou uma coletiva para dizer que realmente aparecia um rombo de R$ 54 milhões nas contas. Que, claro, haviam sido anteriormente aprovadas naquela mesma Casa.

É ótimo que o Tribunal de Contas fique em cima dos casos e que faça bons trabalhos, como este sobre a Câmara. Mas o que seria desejável é que não se chutassem apenas os cachorros já mortos ou moribundos.

Veja-se o caso do governo do estado, mesmo. Há anos os conselheiros encontram problemas graves nas contas de todos os governantes que passam pelo Palácio Iguaçu. Mas sempre dão um jeito de aprovar "com ressalvas", "com recomendações", mesmo sabendo que há problemas. As contas do final da era Requião receberam parecer pela aprovação porque o atual presidente, Artagão de Mattos Leão, mesmo vendo irregularidades, disse que era preciso julgar também com o coração, não só com a cabeça.

Seria a hora de usar mais a cabeça e menos o coração. O bolso do cidadão agradece.

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