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Pesquisas erram, a gente sabe. Estão aí casos recentes para mostrar isso, como o de Rubens Bueno em 2004, que aparecia miudinho nos levantamentos e acabou fazendo 20% dos votos para prefeito de Curitiba. Ou a eleição de Flávio Arns para o Senado em 2002, que nenhum instituto havia previsto até a semana final de campanha. Mas, vamos e venhamos: por mais que as pesquisas errem, não vão errar tão de longe: Beto Richa está reeleito.

O que não dá é para concluir, a partir daí, que a atual eleição está encerrada. A gente tem o costume de só dar pelota para a campanha majoritária, e acaba se esquecendo que está acontecendo, ao mesmo tempo, a escolha de todos os vereadores que – pelo menos em teoria – vão fiscalizar o segundo mandato de Richa. Pois é. Pode ficar só na teoria. E eis a importância dessa eleição, mesmo para quem se importa só com o prefeito e acha que está tudo resolvido.

Vejamos o estado atual de nossa Câmara. Um levantamento da ONG Transparência Brasil, especializada no assunto, mostra alguns fatos interessantes sobre os vereadores de Curitiba. O que mais chama a atenção é sobre a mudança de partidos depois da última eleição. Segundo os números, que dizem não mentir, o PSDB elegeu quatro representantes em 2004. Hoje, são 10. Aumento de 150%.

O que quer dizer isso? Por que justo o PSDB atraiu esse pessoal? Lógico: é o partido do prefeito. E a ânsia de agradar aos poderosos é tão grande entre nossos apequenados vereadores que eles não têm problema de passar carão: para ficar mais perto do poder, não vêem mal nenhum em deixar a legenda em que militavam e aderir a outro partido. Mais uma curiosidade: o PMDB, do governador Requião, que em Curitiba é inimigo do rei, perdeu todos os quatro vereadores que tinha. Esse é um dos poucos casos em que a Câmara de Curitiba é realmente transparente...

Se fosse só isso, vá lá: adesistas há em todo lugar. E a atual legislação, que botou os pingos nos is e determinou a fidelidade partidária, deve diminuir bastante o casuísmo das legendas. Mas o buraco é mais embaixo: mesmo os que não mudaram de partido não parecem ter feito direito o trabalho para que foram eleitos. Sim, porque papel de vereador não é escolher cidadão honorário nem pedir poste de luz para rua. É legislar e fiscalizar o prefeito.

Fora um ou outro gato pingado – e nesse caso a oposição do PT costuma errar para o outro lado, sendo do contra só por não estar no poder – os vereadores seguiram a linha clássica de quem quer ficar na boa com os poderosos. Aprovaram tudo que o prefeito quis, sem restrições. Chegaram ao ridículo de marcar uma sessão num sábado só para desfazer uma lei que o prefeito queria de outro jeito.

Por isso, fica a dica: a eleição está decidida, mas nem tanto. Os vereadores têm um papel fundamental para a cidade, e até para um bom desempenho do Executivo. Será que os atuais vereadores fizeram o suficiente para ganhar mais uma chance? E o seu candidato: vai ficar pedindo manilha em bairro ou fazer aquilo que a lei determina que ele faça? Aliás, como muita gente nem presta atenção a isso e acaba votando só porque um amigo pediu, eis a pergunta fundamental: você sabe em quem está votando para vereador?

Bom de voto, mas sem transferência

Roberto Requião é um gigante de votos: foi o único a ser eleito três vezes para o governo do estado. Em toda a sua vida, perdeu apenas uma eleição, para o governo, em 1994, contra Jaime Lerner. No entanto, seus votos têm uma característica infalível: nunca se transferem para ninguém. Prefeito de Curitiba, não conseguiu eleger seu sucessor. No primeiro mandato de governador, idem. Em suas três passagens pelo governo, nunca conseguiu ajudar a eleger um correligionário para a prefeitura. Todos seus candidatos na capital naufragaram, alguns de maneira mais vexaminosa, outros menos.

Tudo isso já é amplamente conhecido. Agora, o 1% de Carlos Moreira para a prefeitura é um novo recorde. Um naufrágio nunca antes visto no partido. O mesmo PMDB perdeu todos os seus vereadores da capital e tem dificuldades para achar novas lideranças. Certeza do motivo ninguém tem. A maior probabilidade? Isso dá para dizer. O estilo de Requião, que odeia conviver com sombras, tem muito a ver com isso. Ou alguém tem dúvida de que se Gustavo Fruet estivesse no partido teria, no mínimo, um desempenho superior a 1% dos votos?

Hoje, excepcionalmente, não publicamos a coluna do jornalista Celso Nascimento.

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