O Brasil está perto de fazer história com um evento que vai assombrar o mundo. Vai ser no dia 12 de junho, em São Paulo, no Itaquerão. Mas não. Não estamos falando de futebol, nem da Copa do Mundo. Mas é só por uma coincidência que tudo vai acontecer na mesma data e horário. Estamos falando é do fato de um paraplégico voltar a andar diante de todo o planeta. Nada bíblico, mas quase milagroso: trata-se de ciência, e de ciência brasileira.
A obra é do neurocientista Miguel Nicolelis, que comandou pesquisadores em três continentes para montar um aparato que permitirá a pessoas que perderam totalmente os movimentos das pernas que voltem a andar. O "exoesqueleto", criado em parceria com engenheiros alemães, fica ligado ao cérebro do paciente por meio de uma série de conexões desenvolvidas em conjunto com uma universidade norte-americana. Mas o centro da pesquisa é o brasileiro Nicolelis.
Há anos ele vem trabalhando com uma ideia inovadora. Implantou fios no cérebro de macacos e conseguiu captar as ordens que o cérebro dava aos músculos do braço. Com o tempo, ensinou os símios a jogarem videogame, por exemplo, sem mover os braços, só com a força do pensamento. Depois, fez o mesmo com as pernas: os macacos pensavam em andar, e uma máquina remotamente ligada a eles por ondas cerebrais transmitidas a distância fazia os movimentos que eles pensavam em fazer.
Agora, Nicolelis e sua equipe montaram o exoesqueleto e com um número de conexões absurdamente maior, suficiente para "capturar" o pensamento humano, fez com que oito paraplégicos treinassem o uso do equipamento uma imensa armadura, por enquanto, mas que Nicolelis garante que, no futuro, será pouco mais do que uma segunda pele no corpo do paciente. Os resultados são impressionantes.
O grupo de cientistas por enquanto não libera muitas imagens dos pacientes andando. Há pequenos trechos disponíveis na internet. E já são o suficiente para causar arrepios em quem gosta de ciência e em qualquer um que consiga imaginar o drama de alguém que perdeu todos os movimentos e agora pode se imaginar andando de novo. Um dos pacientes comentou que pedirá o aparelho emprestado para usar no dia de seu casamento. Entrará com ele na igreja.
Antes disso, dois pacientes andarão pelo Itaquerão e darão o pontapé inicial da Copa do Mundo. Um gesto simbólico. Mas que gesto simbólico! O próprio Nicolelis, quando fala do assunto, fica à beira de chorar. Sabe que está atingindo algo importante e sempre diz ter orgulho de mostrar que no Brasil também se faz ciência de ponta. "Isso está sendo feito debaixo do Cruzeiro do Sul", diz.
Mas o que tudo isso tem a ver com política, o tema desta coluna, você pode se perguntar. Fica à sua escolha. Talvez o governo devesse aproveitar a deixa e investir mais em ciência: é nítido que podemos ir longe com algum apoio. Talvez o fato de tudo isso ser visto por bilhões de pessoas em todo o mundo melhore a imagem do Brasil no planeta. Talvez pelo menos os políticos deixem de contingenciar ano a ano as verbas para ciência.
De minha parte, acho todas as considerações válidas. Mas creio que o mais importante mesmo é que o país terá mais uma chance de deixar de lado seu complexo de vira-latas e perceber que não somos apenas uma terra marcada por corrupção, esquemas duvidosos e destinada ao fracasso. Quando os paraplégicos voltarem a andar, restará a nós desejar que sejam os primeiros passos rumo a um país melhor.
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