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Um antigo governador de São Paulo definia bem a relação entre os poderosos e os seus súditos. Falava que durante os quatro anos de mandato o governante não precisava nem mesmo se preocupar em girar a maçaneta da porta. Havia sempre alguém disposto a correr na frente e fazer o serviço. É assim que as coisas funcionam: o primeiro direito que cabe ao ocupante de um cargo público é o de ter um séquito fiel, disposto a servir e elogiar seu patrão 24 horas por dia.

Políticos, por definição, são pessoas autoconfiantes. A maioria beira a arrogância. Quando se vêem cercados subitamente de admiradores, então, acreditam ter se tornado semideuses. Não há como evitar. E passam a crer que são realmente merecedores de todos os elogios que lhes são feitos – mesmo os mais absurdos. E se eles estão 100% certos, quem critica qualquer de seus atos só pode estar errado. Na melhor hipótese, trata-se de um tolo. Na pior, de um traidor. De um vendilhão. De um crápula.

Penso nisso todas as vezes que vejo o governador Roberto Requião desancando alguém na Escola de Governo. Semana passada, por exemplo, ele humilhou em público o secretário Aírton Pisseti. Pediu ironicamente uma salva de palmas ao subalterno, dizendo que "quem sabe assim ele aprendesse alguma coisa". Pisseti não se retirou, não reclamou, não esboçou qualquer reação. Sorriu, como se desse razão ao poderoso patrão.

Requião tem predileção por bater na imprensa. Todos os jornais são horríveis em sua opinião. Fora, é claro, os que elogiam copiosamente o seu governo. Recentemente, passou a criticar com a mesma ferocidade o Ministério Público. E veja só que curioso: são justamente essas as duas instituições que têm mais poder para fiscalizar e criticar um governador.

A impressão que fica é de que os jornais e o Ministério Público são execrados justamente porque exercem sua função. Criticam, exigem, contestam. Não engolem o que o governador diz. Não fazem o papel de fiéis súditos do governador. O mundo, afinal, não é formado só por Pissetis. Ainda bem.

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Fazendo bobagem

Destacar-se por fazer bobagens num ambiente como o da Assembléia Legislativa exige uma boa dose de esforço. O deputado Ademar Traiano, porém, conseguiu o feito nos últimos dias. Primeiro, apresentou um projeto absurdo, proibindo que denúncias anônimas dêem origem a procedimentos investigativos. Ou seja: quem quiser denunciar políticos tem de se expor e correr o risco da retaliação. Obviamente, o projeto defende antes de mais nada o espírito de classe dos parlamentares. Mas não ficou nisso. Traiano conseguiu não comparecer à votação do próprio projeto. De lambuja, levou uma indireta do presidente da Assembléia Legislativa, Nelson Justus, que diz que não vai tolerar que a ausência se repita. Não há dúvida. O troféu da semana vai para Ademar Traiano.

Pobre menina rica

Fico pensando no que vai deixar a filha do Renan Calheiros com a Mônica Veloso mais orgulhosa no futuro. Ter um pai acusado de todo tipo de corrupção ou uma mãe que aproveitou um escândalo horroroso para tirar a roupa e ganhar uns trocos.

Engraçadão

O governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, tentou dar uma de engraçado. Publicou um decreto em que "demite o gerúndio" da administração pública. Imagino que não exista nada mais importante para se fazer em Brasília. Cuidar do jeito que o povo fala é o que importa. Arruda é aquele mesmo que enfrentou um processo de cassação por suspeita de ter fuçado no painel do Senado, junto com o falecido Antônio Carlos Magalhães. Deveria deixar os outros falarem como quiserem e se preocupar um pouco mais em melhorar sua biografia.

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"As crianças são mensagens vivas que enviamos para um tempo que não vamos ver."

John W. Whitehead, defensor de direitos civis norte-americano.

rgalindo@gazetadopovo.com.br

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