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Tempos atrás, publiquei um artigo comparando Nelson Justus ao senhor Roarke. Para quem não se lembra, o senhor Roarke era o personagem central da série A Ilha da Fantasia, que passava na tevê quando eu era menino. Tinha a mágica capacidade de realizar os desejos dos visitantes que chegavam aos seus domínios. Não era só uma provocação: realmente acredito que os nossos estimados deputados estaduais vivem numa espécie de mundo paralelo.

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Na Assembleia Legislativa, a vida sempre foi mais fácil do que aqui fora. As horas de trabalho são poucas. Os dias de recesso são muitos. Os salários são altos e as mordomias, inúmeras. Na época do artigo, fiz a comparação porque Justus havia conseguido aprovar um plano de aposentadoria para os deputados que era absolutamente inalcançável para alguém que vive sob as regras do mundo comum. Coisa de pai para filho. Coisa de amigo, mesmo.

A série "Diários Secretos", feita em parceria pela Gazeta do Povo e pela RPC TV, vem mostrando em detalhes como funciona esse mundo paralelo. Parentes nunca ficam desempregados. Mortos ganham emprego. Os salários ultrapassam todas as expectativas. Durante décadas, foi essa a realidade: com pouca ou nenhuma fiscalização, os deputados foram se acostumando a esse planeta à parte, onde a vida corria solta, sem dores de cabeça de nenhum tipo.

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É compreensível o comportamento dos deputados paranaenses nos últimos dias. Eles não parecem espantados com os fatos revelados. Pelo contrário: o que parece espantá-los é que alguém esteja revelando tudo aquilo. A bolha furou. A ilha da fantasia está ameaçada.

O discurso de Luiz Cláudio Romanelli nesta semana mostra como pensa a maioria dos deputados. Depois de dizer que as denúncias envolvendo o presidente Nelson Justus não tinham nada demais, o que por si só já mostra o grau de alheamento do deputado com a realidade, Romanelli pediu que Justus "se poupasse". Que não se expusesse tanto tentando defender a Assembleia. Tem sido esse o tom dos discursos: apoio a Justus, escândalo com as denúncias. Ou, mais comumente, o silêncio.

Um observador atento da política local perguntou esses dias: cadê o nosso Pedro Simon? A pergunta é boa: quem, dentre os nossos 54 deputados, se disporá a romper o corporativismo para, finalmente, dizer de dentro da Assembleia aquilo que todos nós queremos ouvir? Quem fará o papel que Simon fez no escândalo de Renan Calheiros? Quem dará o cartão vermelho que Eduardo Suplicy deu a José Sarney? A única exceção fica pela postura de Tadeu Veneri. Mesmo assim, embora honrosa, a postura do deputado foi tímida.

Até agora, nossos deputados, co­­­­mo regra, optaram pela defesa de seu mundo paralelo. Não se convenceram ainda de que a era dos diários secretos foi sepultada. Na cabeça deles, quem sabe, isso é só um breve pesadelo. Logo, Tattoo reaparecerá e o senhor Roarke recuperará seus poderes ilimitados. A ilha estará salva.

Tudo indica que os deputados estão errados. Pela primeira vez, o mundo real está interferindo no funcionamento da Assembleia. A cada dia, cresce o número de instituições que defende o afastamento de Nelson Justus e até mesmo do primeiro-secretário, Alexandre Curi. O povo finalmente parece se dar conta dos enormes problemas existentes no nosso Legislativo. Não acredito que haja espaço para recuo. É hora de mudar. E nossos deputados parecem que simplesmente não perceberam isso. Estão perdendo o bonde da História.

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