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Estamos tão acostumados a ouvir falar em desvios de recurso público, mamatas, licitações dirigidas e outras formas de corrupção que chegamos, ainda que sem nos darmos conta, a uma conclusão pouco saudável: pensamos que podemos dividir nossos políticos unicamente em dois grupos: corruptos e não-corruptos. E, obviamente, o segundo time é bem menor do que o primeiro.

E esquecemos que para um político merecer nosso voto não deveria ser apenas honesto. Deveria ser um bom gestor. O fato de ele não meter a mão no nosso bolso era para ser apenas a premissa inicial, básica. Como na maior parte das vezes, porém, não conseguimos nem mesmo achar alguém que preencha esse primeiro item do processo de seleção, desistimos de exigir os outros pré-requisitos.

Assim, acabamos votando, por exemplo, em prefeitos incapazes de evitar a instalação de um monumento em formato de cocô em praça pública. Parece exagero, mas foi o que aconteceu em Ponta Grossa. Péricles de Mello (PT), durante seu único mandato como prefeito, decidiu fazer uma homenagem à araucária – símbolo do estado – e ao arenito que forma as rochas de Vila Velha. O resultado foi o "Cocozão".

Instalado perto da universidade local, o "Monumento aos Campos Gerais" logo teve seu nome trocado pelo apelido popular. Tudo nele foi mal pensado. Custou R$ 90 mil. A fonte de água nunca funcionou. A cor e o formato deram origem ao apelido escatológico. E a maioria dos pontagrossenses pagaria o dobro do custo de sua construção para que ele nunca tivesse existido.

O monumento virou motivo de piada. Na internet, ficou conhecido internacionalmente. Há sites de estátuas de outros países que mostram a bobagem pontagrossense como exemplo de bizarria – e nesse caso não se trata de um cocozão municipal, mas de um símbolo de todo o país. É a única obra do prefeito a ter repercussão desse porte.

Ontem, a prefeitura de Ponta Grossa anunciou que vai demolir o monumento. O próprio Péricles de Mello já pedia que ele viesse abaixo. Talvez para esquecer a besteira que fez. O ex-prefeito, que de resto acertou em várias outras decisões, diz que o monumento atrapalhou a sua reeleição. É compreensível.

A demolição do monumento, porém, não deveria acontecer. O cocozão deveria permanecer em pé, altaneiro. Seria um imenso lembrete do legado deixado pelas decisões erradas dos homens públicos. Como um post-it gigante, em praça pública, nos lembrando de que deveríamos pensar melhor na hora do voto – e de que deveríamos cobrar decisões melhores de nossos políticos.

Mas não será assim. O cocozão sumirá na história. E os ponta-grossenses não terão mais o monumento para lembrá-los de que seu dinheiro corre o risco de virar algo inusitado depois de passar pelas mãos dos políticos. É pena.

Até prova em contrário

O Tribunal de Justiça do Paraná adotou ao pé da letra a legislação nacional. Ninguém é culpado até prova em contrário. Sendo assim, o candidato a juiz Leonardo Bechara Stancioli pôde assumir a vaga a que concorreu. Ou seja, no entendimento do TJ não há provas de que o candidato teria fraudado o teste para entrar na magistratura.

O problema é: houve interesse em produzir a prova? A televisão exibiu o sogro do candidato, ministro do STJ, afirmando em uma gravação que o esquema para o genro ser aprovado estava montado. Diz o TJ que o Supremo não forneceu a gravação. Mas o que todo mundo ouviu não conta?

Alguém sob suspeição pública pode exercer o cargo de juiz? Bechara não deveria se dar por impedido? E por que o STF não cede as gravações?

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