Bancadas servem para defender interesses. A bancada ruralista defende os fazendeiros – se está contra Dilma, é porque o governo não atendeu esses interesses. O mesmo vale para a bancada da bala. As políticas petistas de defesa de direitos humanos e desarmamento irritam deputados do tipo “lei e ordem”, e é normal que eles queiram outros governos. A lógica serve para os evangélicos e até para bancadas estaduais.
O que quer, portanto, a bancada da Lava Jato? No domingo (17), os investigados por corrupção na Petrobras mostraram uma grande insatisfação com o governo. A Câmara que julgou o processo contra Dilma tem 22 investigados na lista de Janot. Desses, 16 deram voto pelo impeachment da presidente: nada menos do que 72% de insatisfeitos com o atual governo. Excluídos dois petistas e um ausente, o índice chega a 81%.
A maior parte dos acusados que abandonou Dilma vem do PP. Para quem não está acostumado com política, o PP é mais ou menos como a marmota do filme “Feitiço do Tempo”. Fica-se observando: quando o PP abandonar o governo, é porque ele não dura mais um mês. É porque outro governo está chegando e lá ele pretende se aboletar.
O PP também é o partido com mais investigados no escândalo da Petrobras. A legenda, junto com o PMDB, montou sociedade com o governo petista para desviar dinheiro da estatal de petróleo. Antes, o PP já havia participado com destaque do mensalão. Agora, numa reunião, decidiu que é hora de desmanchar a sociedade. Um dos motivos é evidente: a sociedade foi descoberta e não se pode continuar extraindo os frutos que ela trazia.
(Sobre isso: o escritor Ambrose Bierce definia “amizade” como “um barco grande o suficiente para carregar duas pessoas quando há bom tempo, mas apenas um na tormenta”.)
Mas parece haver mais. O PP deve participar do governo Michel Temer, como adianta o paranaense Ricardo Barros – o deputado admite que seu partido deve estar basicamente ao lado de todos os presidentes, para ajudar na governabilidade, embora isso não se verifique com Dilma no momento. E embora tenha ficado nítida a pressão que o PT exerceu sobre os deputados, é evidente a essa altura que existe um “outro lado” pressionando igualmente.
Temer se reuniu com deputados do PP e com o presidente do partido, Ciro Nogueira. Foi aí que o partido decidiu abandonar Dilma de vez. Foi aí que a bancada da Lava Jato fechou de vez com o impeachment. O que teria acontecido nessas conversas? O que Temer prometeu ao PP?
Em entrevistas e declarações, Temer tem dito que apoia a Lava Jato e que, inclusive, irá incentivá-la. Dilma Rousseff, que tem dezenas de defeitos, não parou a operação, e seu ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, ao sair do cargo teria dito que não aguentava mais Lula enchendo para que ele fizesse algo – para que parasse a Polícia Federal.
É preciso tomar cuidado para que Temer, caso vire presidente, não atenda os interesses dessa bancada em particular. Há no ar o cheiro de que o impeachment de Dilma pode ser, de fato, o impeachment de Sergio Moro.
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