Pode parecer estranho, mas a simples indicação, ainda não formalizada, para a chapa de José Serra, faz de Alvaro Dias o político saído do Paraná que passou mais perto de concorrer com chances reais em uma eleição presidencial. Como já ficou dito, é estranho. Em 121 anos de República, nunca um paranaense chegou à Presidência. Nem à vice. Nem perto. Até hoje, Bento Munhoz da Rocha foi o único que quase disputou a vice, em 1955. Mas nem chegou a ser candidato.
É claro: é preciso descontar aqui candidaturas folclóricas, sem qualquer chance de vitória. Caso das vezes em que Roberto Requião disputou a indicação no PMDB, mesmo sabendo que não tinha apoio nem de um quarto dos convencionais. Ou a malfadada candidatura de Affonso Camargo em 1989, em que ele pedia às pessoas para saírem de amarelo às ruas conselho que quase ninguém seguiu.
Alvaro, se for mesmo companheiro de chapa de Serra, estará em uma chapa viável, disputando palmo a palmo a campanha contra o PT de Dilma Rousseff. Tendo em vista a parca participação política do Paraná no cenário nacional isso, por si só, já é algo estranho. Mas há outros fatos ainda mais improváveis na indicação.
Fato número 1: Ninguém duvida de que Alvaro seja um campeão de votos. Desde os anos 70 tem batido recordes eleitorais: deputado federal mais votado, senador numa campanha histórica contra Ney Braga, governador com votação massacrante. Em tempos recentes, porém, perdeu a sua invencibilidade. Acabou duas vezes derrotado na tentativa de voltar ao governo do estado: perdeu uma para Lerner, outra para Requião. Em 2006, com toda a sua bagagem, teve dificuldade para vencer a novata Gleisi Hoffmann (PT).
Fato número 2: Neste ano, nem mesmo a indicação de seu partido para o governo do estado conseguiu: foi derrotado na disputa interna contra Beto Richa. No diretório regional, Alvaro tem atualmente uma situação difícil. O presidente estadual do PSDB, Valdir Rossoni, disse nos últimos dias que nem estava acompanhando a possível escolha de Alvaro para a chapa presidencial. É que os dois, por causa da escolha de Beto para a disputa do governo, nem se falam mais. A indicação para a Vice-Presidência justo neste momento de baixa mesmo no estado em que fez carreira parecia uma improbabilidade, mas aconteceu.
Fato número 3: Um ano atrás, dificilmente alguém se lembraria do nome de Alvaro para compor chapa com Serra. Nada a ver com a situação dele no Paraná. O caso tinha a ver mais com o cenário nacional. Se Serra saísse na cabeça de chapa, o que àquela altura não era certo, o mais provável seria ter Aécio Neves na vice. Foram cotados vários outros pesos-pesados: José Roberto Arruda (sim, na época fazia sentido), Kátia Abreu e Tasso Jereissati, por exemplo. Alvaro só chegou até aqui porque nada funcionou antes para o PSDB.
Fato número 4: Mesmo que Alvaro estivesse cotado desde sempre, sua posição geográfica e a legenda a que pertence pareciam desaconselhar qualquer composição do gênero. O Paraná e o Sul são pontos fortes do PSDB. Não só pelo que mostrou a pesquisa do Ibope nesta semana*. O PT sempre foi fraco por aqui. Nunca elegeu um governador, nem o prefeito da capital. O PSDB tem dois dos três senadores e elegeu o prefeito de Curitiba nas últimas duas vezes. Tem o governo do Rio Grande do Sul e frequentemente vence as eleições presidenciais por aqui.
Parecia pouco crível que o partido viesse buscar o vice justamente aqui, onde não parece precisar de reforço. Seria uma tentativa de concentrar esforços no Sul e Sudeste e esquecer o resto, onde o PT se mostra mais forte? Novamente, parecia improvável, mas aconteceu.
De todo jeito, é assim que as coisas acontecem na política. Ninguém sabe explicar como se chegou a uma situação. Depois que ela acontece é que surgem as explicações. O fato é que Alvaro parece realmente perto de ser vice na chapa de Serra. Se for mesmo à disputa, tem chances reais de ganhar. Vice-presidente, será um caso único na história do estado. E, mesmo se perder, terá reerguido sua carreira de uma maneira bastante impressionante. Ponto para ele: do limão que lhe deram, conseguiu a limonada que ninguém por aqui ainda havia feito.
* A pesquisa CNI/Ibope ouviu 2.002 eleitores em 140 municípios, entre os dias 18 e 19 de junho. A margem de erro é de dois pontos porcentuais para mais ou para menos. O levantamento foi registrado no TSE com o número 16.292/2010.
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