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Desde ontem, quando se anunciou que a passagem do ônibus em Curitiba vai subir, as autoridades de plantão começaram a explicar os motivos da decisão. O que interessa saber, porém, não é apenas por que a tarifa subiu agora. É preciso saber também por que o aumento não veio antes.

A resposta é simples. O prefeito segurou o preço até que a eleição passasse. Fez o discurso de sempre, de que manteve o preço durante seu mandato. Posou de "o homem da tarifa baixa". E assim que conquistou votos suficientes para garantir quatro anos de poder, tascou-lhe um aumento de 15% na passagem.

A data não podia ser politicamente mais acertada. Por um lado, o prefeito já está reeleito e empossado. Quem votou acreditando que o preço continuaria onde estava não pode nem procurar o Procon. Por outro lado, o aumento vem muito, muito antes da eleição estadual de 2010. Ou seja: daqui há um ano e meio, o povão não vai mais estar tão bravo assim pelo aumento de agora.

A estratégia nem surpreende. Beto Richa tem na passagem do ônibus o seu maior instrumento de fazer política. Enquanto ainda era vice de Cassio Taniguchi, Richa fez seu primeiro grande gesto político durante uma viagem do titular ao exterior. Anulou um decreto de Cassio que elevava o valor da passagem. Pronto: virou "o amigo dos passageiros".

Durante a campanha para a reeleição, Beto meio que disfarçava quando perguntado na bucha se a passagem iria subir ou não. Dizia só que iria manter o preço enquanto fosse possível. Mas durante quanto tempo seria possível? Beto não dizia. Hoje, tudo indica que o prefeito sabia a resposta na ponta da língua. O aumento era necessário e urgente. Por que não disse isso à população?

Indignação

O Legislativo pode errar. O Executivo pode errar. E o Judiciário também. Os juízes e as cúpulas dos tribunais não são menos humanos do que os chefes dos outros poderes. E podem fazer bobagens – intencionalmente ou sem querer.

Por exemplo: receber um prédio de R$ 48 milhões e resolver pagar todas as prestações devidas à construtora, mesmo havendo denúncias de irregularidades na obra. Parece certo? Pois é. Não parece. Mas o Tribunal de Justiça do Paraná comemorou o recebimento do Anexo do Palácio da Justiça. E decidiu pagar os R$ 4 milhões à Cesbe, de Curitiba, que construiu o prédio. O pagamento estava suspenso desde que os próprios desembargadores detectaram indícios de superfaturamento e de licitação dirigida na obra.

Nada impediu que o desembargador José Antônio Vidal Coelho assinasse no dia 18 passado a determinação de receber o prédio, conforme registrou reportagem de Karlos Kohlbach publicada por esta Gazeta. Eram seus últimos dias como presidente do tribunal: o mandato acaba neste mês.

E eis porque, às vezes, a condução do Judiciário pode ser pior do que a dos outros dois poderes. Vidal Coelho é um completo desconhecido para a ampla maioria dos paranaenses. Não foi eleito diretamente pela população, e sim por seus pares. Seus eleitores – a quem ele deve satisfações de maneira mais direta – são os próprios desembargadores.

Se um deputado recebe um anexo do Congresso Nacional nas mesmas condições, a população pode avaliar o seu ato, deixando de votar nele na próxima vez. O mesmo vale para um prefeito, governador ou presidente. No caso do Judiciário, o que nos cabe fazer? De que nos serve a indignação?

O curioso é que os três relatórios já produzidos sobre a obra apontam problemas. O primeiro, do Tribunal de Contas, deu origem à série. O segundo, da Comissão de Obras do TJ, é o mais drástico. O terceiro, da UFPR, também relata irregularidades. Não há um relatório que diga que tudo correu bem.

Mesmo assim, nós, que financiamos o Judiciário, vamos terminar de pagar os R$ 48 milhões. E sem poder de decisão sobre o assunto.

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