A maior repercussão da entrevista concedida pelo governador Roberto Requião à Gazeta do Povo, publicada ontem, tem relação com a parte eleitoral. Requião afirma que teria chances de se eleger presidente e afirma que pode não sair para o Senado.
Para mim, porém, o que mais chama a atenção é a imagem que Requião tem sobre o próprio governo. Requião diz que teria chances de se eleger presidente porque "a administração pública do Paraná é um exemplo para o Brasil". E passa a enumerar fatos que, segundo ele, o credenciariam à disputa.
É curioso saber o que um governante acha que foi o seu maior legado. Requião respondia à queima-roupa, sem tempo para pensar muito. Falava, imagino, sobre as primeiras coisas que lhe vinham à cabeça.
E todos os aspectos ressaltados dizem respeito à economia. Primeiro, o governador menciona a reforma tributária. "A nossa reforma tributária é fantástica e estamos arrecadando 8,5% a mais do que no ano passado."
Depois, passa para o desenvolvimento econômico. "Nós não cobramos da microempresa, baixamos os impostos de bens que o salário compra, (...) temos a energia elétrica mais barata do Brasil." Por último, fala de poder de compra. "Os salários têm sido aumentados pelo salário mínimo regional."
Ou seja: Requião, quando pensa rápido para responder porque seu governo merece ser defendido, lembra antes de tudo de impostos, empresas, energia elétrica e salários.
Isso mostra duas coisas. Primeiro, que o orgulho maior do governador recai sobre algumas políticas soltas, sem compromisso de longo prazo. A maior parte desses pontos pode ser revertida em pouco tempo, apagando o tal legado.
Segundo, que Requião não tem como ponto forte, como nunca teve, a autoria de grandes obras de infraestrutura. Na área viária, seu maior esforço foi político, contra o pedágio. Não ganhou. Prometeu as estradas da liberdade. Ainda não entregou. Na saúde, traçou plano grandioso de obras, com dezenas de hospitais. Mas ainda falta bastante para que tudo fique pronto. Também não surgem das áreas tocadas durante muito tempo por seus irmãos (a educação e o porto) os exemplos que ele cita.
E aí dá para juntar isso tudo com uma outra declaração do governador na mesma entrevista. Diz ele que não quer pensar em eleição agora. "Se a gente começa a fazer muita política, cai a qualidade da administração." E, vejam só. Na área econômica, que surgiu na cabeça do governador assim que ele precisou de bons exemplos de seu governo, foi onde houve menos política e mais técnica.
Desde o começo do governo se diz que Heron Arzua, o secretário da Fazenda, é o melhor homem do governo. O mais técnico. Foi de lá que partiu a reforma tributária de que Requião se orgulha.
O curioso é que Requião aplicou pouco o exemplo que ele mesmo defende. Acabou fazendo mais política do que deveria. No dizer de um sábio observador, esqueceu de sair do palanque.
O governo de Requião vai chegando ao fim. Como todos os outros, teve erros e acertos. A História vai julgá-lo aos poucos. O próprio governador parece já estar fazendo algum balanço sobre isso. E, ao que parece, é a economia que lhe faz pensar que ele tem algo para comemorar.