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Por que alguém decide virar homem-bomba, cometer um ataque suicida. Muita gente diria que só um impulso religioso (com a promessa de virgens no Paraíso, por exemplo) permitiria uma barbaridade dessas. A historiadora britânica Karen Armstrong (e não só ela) acha que não é bem assim. As pessoas tomam atitudes atrozes e desesperadas, entre outras coisas, porque acham que estão sendo alvo de uma campanha que pretende exterminá-las.

O caos no Oriente Médio, nessa explicação, teria muito a ver com a invasão que os europeus, e mais tarde os americanos, promoveram na região nos últimos duzentos anos, desde Napoleão. O Ocidente tentou impor seu secularismo, ainda que na marra. A cada investida para “ocidentalizar” a região, mais se gerava gente renitente, desconfiada e disposta a enfrentar o que fosse para não permitir que sua cultura, sua religião e seu povo fossem aniquilados. E a cada reação, aumentava a sensação no Ocidente que se tratava de bárbaros que precisavam ser civilizados.

Mas o que isso tem a ver com a política nacional? Muito pouco, claro. Afinal, não há por aqui gente se explodindo para mostrar que o PT é isso ou aquilo, ou jogando caminhões-bomba contra a sede da Polícia Federal. Mas talvez a psicologia que os especialistas tentam encontrar na crise do Oriente Médio ajude a pensar sobre o momento delicado da vida por esses cantos. Talvez não seja absurdo pensar que os dois lados envolvidos atuem sob a impressão de estarem sendo vítimas de uma campanha de aniquilação.

Não é segredo para ninguém que uma parcela da população brasileira sempre teve medo do PT. O medo dos vermelhos vinha desde bem antes. Com o fim da ditadura, a primeira campanha de Lula foi marcada por boatos de que os petistas fariam um governo socialista, tirariam carros e quartos das casas das pessoas para dar aos pobres etc. Só com a guinada para o centro de 2002, Lula conseguiu chegar ao poder.

De início, a convivência entre governo petista e inimigos do PT foi amenizada por dois fatores. Primeiro, porque ninguém imaginava que seriam quatro governos consecutivos. Segundo, porque a economia ia bem e isso sempre ajuda. Depois, somando a longevidade no cargo com as denúncias de corrupção, voltou a rivalidade. E o discurso de muitos antipetistas assumiu o caráter da guerra de aniquilação. O PT quer acabar com o país. Quer acabar com a cultura tradicional, com a religião, com a família. É preciso acabar com eles antes que eles acabem com a gente.

A reação do PT, e da esquerda em geral, foi de ver nesse discurso a campanha pela própria aniquilação. O discurso que surgiu disso foi o de que uma elite que sempre esteve acostumada a governar sozinha – e em nome dos próprios interesses – não aceitava as regras do jogo democrático e a decisão da maior parte da população. As elites, dizem os petistas, querem acabar com a esquerda, aniquilar o PT e subjugar a vontade do povo.

A cada gesto de um lado para conter a ameaça que se vê vindo do outro lado, vem uma reação. Os discursos sobem de tom e o medo da aniquilação, da campanha de destruição, no “ou nós ou eles”, deixa de parecer paranoia e fica cada vez mais convincente. Se for isso mesmo, há duas alternativas. Ou paramos para tentar entender o que realmente está acontecendo (entender aqui como oposto de agir com base em impulso); ou arriscamos chegar a graus cada vez mais malucos de paranoia. Correndo o risco de virarmos um país de homens-bomba.

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