Ok. Abib Miguel, o Bibinho, está oficialmente afastado da Assembleia. É o primeiro resultado concreto da série de reportagens "Diários Secretos", feita em parceria por esta Gazeta e pela RPC TV. As matérias revelaram um amontoado de escândalos no Legislativo paranaense. Entre eles, estava uma rede de funcionários ligados ao diretor-geral da Casa. No­­­meados, alguns recebiam supersalários, embora haja indícios fortes de que nem mesmo trabalhavam na Assembleia.

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A situação ficou insustentável e Bibinho saiu de cena (pelo menos temporariamente). É ótimo que ele tenha se afastado. Em primeiro lugar, porque as denúncias são tremendamente sérias e é bom que os supostos envolvidos, principalmente os mais poderosos, não estejam em cargos de comando enquanto acontecem as investigações. É um procedimento recomendável que evita a suspeita de que provas de ilícitos serão apagadas. Em segundo lugar, o afastamento é bom porque mostra que a indignação da sociedade diante dos fatos já teve alguma repercussão. Pior seria se nunca nada acontecesse, apesar das provas de que é preciso haver mudanças.

Mas há um risco nessa situação. É o risco de se criar um único bode expiatório para toda a situação. Tudo indica que estamos caminhando para isso. Nos últimos dias, depois de as primeiras denúncias virem a público, alguns deputados vêm dando indiretas, afirmando que Bibinho era o cara. Os deputados tinham medo dele. Mandavam menos do que ele. Se cometiam algum ilícito, era porque Bibinho mandava. O próprio governador Requião deu uma declaração perigosa. Disse que Nelson Justus, o presidente da Casa, é um homem sério. E que o problema da Assembleia é histórico.

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A impressão é de que tudo recai sobre as costas de Bibinho. Por mais forte que fosse, Abib Miguel, porém, era um funcionário. Esteve lá durante décadas – e atuou sob diversos presidentes. A palavra importante aqui é "sob". O presidente manda no Legislativo. É responsável pela indicação do diretor-geral. E não pode simplesmente se isentar de responsabilidade sobre aquilo que deveria ter resolvido.

O risco Bibinho é esse: fingir que tudo se resumia a uma pessoa. Quem o empregou não conta? Quem o manteve no cargo não tinha que cobrar nada? Quem tem mandato de deputado estadual não deveria zelar para que o dinheiro público investido na Casa seja bem empregado? Ou os presidentes (o atual e os passados) assumirão que eram presidentes pela metade? Que mandavam apenas em parte: no resto, obedeciam a um funcionário que não tinham competência para conter?

Bibinho se afastou. É um começo. Mas não podemos nos esquecer disso: é apenas o começo.

Cadê o fiscal?

Uma nota a mais sobre a As­­­­sembleia. É voz corrente: a série de reportagens dos Diários Secretos tem revelado aquilo que todos nós mais ou menos adivinhávamos (ou sabíamos) sobre o assunto. A pergunta é: se nós, cidadãos comuns, sabíamos, onde estavam as autoridades de outros poderes que não fizeram nada nesses anos todos para evitar que o problema persistisse. Onde estava o Ministério Público? Havia investigações, dizem. Mas há quanto tempo, e quanto mais demoraria para chegarem a algum lugar? Onde estava o Tribunal de Contas? E a Re­­ceita Federal? E as ONGs? Cadê o fiscal?

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