A composição da nova Câmara de Curitiba, eleita domingo por todos nós, é um exemplo concreto de quão mal usamos as liberdades e direitos que temos. Cabia a nós, somente a nós, decidir quem iria nos governar. Quem deveria legislar na cidade. E a quem deveríamos delegar o poder de fiscalizar o prefeito. E o que fizemos? Fizemos a escolha errada.
Veja bem: escolhemos para a Câmara um punhado de tentativas de celebridades. Gente que ganhou a eleição mais na base da popularidade obtida em outras áreas do que por qualquer possível experiência administrativa. Escolhemos votar em cantoras, líderes de torcidas organizadas e apresentadores de programas policiais. Foi pelas propostas, pelo currículo? Logicamente, não.
Escolhemos nossos vereadores pelos motivos errados. Queremos pôr no poder alguém que divida uma mínima convicção conosco. Como, porém, a maior parte dos eleitores não está nem aí para ideologia e tem muito pouca preparação política, a busca de identidade se dá em outras áreas. A moça que é evangélica como eu; o cara que eu vejo toda manhã na tevê; ou até, absurdamente, quem torce para o mesmo time de futebol.
Tento aqui não ser preconceituoso. Pode ser que alguns dos eleitos se revelem grandes interessados no bem-estar da população, que tenham boas idéias e que defendam posições sempre corretas. Mas o ponto é: já chegaram lá pelo motivo errado.
Não é o caso de nostalgia. Alguém poderia dizer que antes, num passado distante, elegiam-se apenas advogados, doutores e quetais. Mas veja bem: no século 19, essa gente era eleita por imposição. A elite e os coronéis obrigavam a população a se restringir a candidatos que estavam eleitos antes mesmo de fazer campanha. Obviamente, isso não é democracia nem exemplo para nada.
Hoje, que temos a liberdade de nos candidatarmos e de votar em quem quisermos, fazemos bobagens monumentais. Damos continuidade a dinastias, por exemplo, sem nenhum pudor. Alguém reparou quantos herdeiros de políticos escolhemos entre os "novatos" da Câmara? Sticas e Buenos, por exemplo. De novo: podem vir a ser bons. Mas foram eleitos por qual razão?
Falta politização. Falta interesse. Sinceramente, fico me perguntando se as pessoas deixariam suas finanças pessoais serem administradas, por um único mês que fosse, pelas pessoas em quem elas votaram. Duvido. Não se vota por confiança, admiração ou respeito. Aliás, vota-se sei lá por quê. Apenas porque é obrigatório, talvez. Não me parece haver outra lógica possível que explique o resultado das urnas em Curitiba. Nem neste ano, nem nos outros.
Pangloss
Marcelo Soares, blogueiro mais competente do país na área política, http://evocecomisso.blogspot.com, deu um novo apelido para o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Carlos Ayres Britto: é Pangloss. É o nome de um personagem hilário do Cândido, de Voltaire, que defende sempre que estamos sempre no "melhor dos mundos" possíveis. O ministro deu entrevistas, após as eleições, dizendo que tudo transcorreu numa calma invejável. A partir daí, Soares passou a elencar problemas ocorridos: mesários envenenados em Santa Catarina; quebradeira generalizada no Maranhão; suspeitas de atentados etc. Só o fato de a segunda maior cidade do país precisar de tropas federais para proteger os eleitores já deveria diminuir um pouco o otimismo.
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