Juristas têm fama de escrever mal. Na maior parte dos casos, a fama é merecida. Mas, como em toda regra, há exceções. E em algumas poucas vezes o texto vindo de um tribunal pode soar como música para os ouvidos. É o caso da decisão do desembargador Rosene Arão Cristo Pereira. Ele negou uma liminar a Carlos Simões, deputado estadual que pretendia não ter de informar à Justiça quantos parentes contratou para seu gabinete.
Escreve o desembargador: "Os membros de cargos eletivos, seja do Executivo, seja do Legislativo, têm a estranha e reiterada idéia de serem intocáveis" Logo a seguir, outro trecho: "Aliás, o impetrante, como deputado estadual, tem o dever de fornecer não só ao Parquet, como também a qualquer cidadão que tenha interesse, obviamente, informações limitadas ao desempenho da função parlamentar."
Isso não serve só para Simões, nem só para este caso. Os parlamentares usam nosso dinheiro e têm o dever de prestar conta dele. Mas o caminho feito por eles é quase sempre o oposto disso. Exemplo lamentável é a proibição contra qualquer denúncia anônima, aprovada na Assembléia Legislativa na semana que passou.
O projeto, do deputado Ademar Traiano, ainda não virou lei. Para isso, é preciso a sanção do governador. E fica aqui desde já o apelo para que Roberto Requião não embarque nessa canoa furada.
Os deputados não podem e não devem ser intocáveis. Precisam ser investigados.
Fechar uma porta qualquer uma no já falho sistema de fiscalização de nosso país é uma garantia a mais de impunidade para os políticos.
Fica também o apelo para os eleitores de todo o estado. Recortem, guardem e levem na carteira o nome de deputados que votam a favor de projetos como esses.
Se não há como investigá-los, há como puni-los por meio do voto. Demora quatro anos, mas o dia da eleição sempre chega mais uma vez.
Falando grosso
Mais uma dica para quem quiser saber qual dos atuais candidatos será o novo presidente dos Estados Unidos: na semana passada, mostrou-se por aqui que desde que a TV em cores dominou o país, os EUA só elegeram homens de olhos azuis. Tem mais. Peter Collet, em The Book of Tells, registra que o candidato mais votado para a Casa Branca tem sido regularmente aquele com um tom de voz mais grave. Ou seja: falar grosso também dá votos.
Mulheres no poder
Ainda sobre motivos que levam alguém a ser eleito. Cristina Kirchner deve ser escolhida amanhã para governar a Argentina. Será a segunda mulher a ocupar o cargo. A primeira foi Isabelita Perón. Pode parecer que os vizinhos têm uma visão menos machista do que a nossa que nunca escolhemos uma mulher para governar o Brasil. Mas é curioso lembrar que Isabelita assumiu por ser vice-presidente na chapa do marido. E Cristina também começou como primeira-dama. Só o casamento com homens fortes parece tornar as argentinas "presidenciáveis".
Promessa é dívida
Está fazendo aniversário a reeleição do governador Roberto Requião. Também completa um ano a promessa do governador feita em frente à imprensa de todo o estado de que lançaria um concurso, via Fundação Ulysses Guimarães, com prêmio de R$ 30 mil. O valor seria entregue ao autor da melhor monografia sobre a influência da imprensa nas eleições de 2006 do Paraná. A tese de Requião é de que a mídia havia tornado sua vitória mais difícil. Um ano depois, nem notícia do concurso. Os pesquisadores ficaram sem os R$ 30 mil. E os eleitores não tiveram a chance de saber se alguém daria razão ao governador. Pena.
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"Quem morreu no Brasil não foi a ética. Quem apodreceu foi o nosso sistema político."
Renan Calheiros, em discurso pedindo votos para a presidência do Senado, em fevereiro deste ano.
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