Um amigo costuma dizer que se sente como o Múcio, aquele personagem antigo do Jô Soares. Se alguém dizia que o Fluminense era o melhor time do mundo, ele concordava inteiramente. Se, logo a seguir, outro dizia que o Fluminense não prestava e que o Flamengo era muito melhor ele não tinha dúvidas: concordava também, com o mesmo entusiasmo.

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Na semana que passou, participei como um dos entrevistadores da série de sabatinas que a Gazeta do Povo vem fazendo com os candidatos a prefeito de Curitiba. Tive a oportunidade de ficar duas horas à frente de cada um: Gleisi, Moreira, Richa e Fabio Camargo. E fiquei imaginando quantos Múcios esse pessoal não deve produzir por aí.

Todos eles são treinados para seduzir quem os ouve. Sim, porque o primeiro erro do incauto eleitor é achar que algum político capaz de chegar a uma eleição desse porte, com chances de ganhar, é burro. Andando na Assembléia Legislativa, conversando com os deputados, não é difícil entender porque alguém pode ter a impressão de que políticos não são lá muito brilhantes. Mas de bobos, como se diz, só têm a cara e o jeitinho de andar.

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Convincentes

Os quatro entrevistados nessa semana, que são os únicos com pontos no Datafolha/RPC/Gazeta do Povo, são para lá de convincentes. Claro que alguém mais politizado, que acompanhe o noticiário, por exemplo, sabe identificar com clareza quem está mentindo, quem está enrolando e quem simplesmente não tem a mínima idéia de como responder a uma pergunta mais espinhosa sobre a administração pública.

Mas eles são, na palavra do cronista mais antigo, insinuantes. Ouvir a defesa que um faz do metrô é tão entusiasmante quanto ouvir o outro atacando o mesmo projeto. Assessorados por marqueteiros, treinados nas dezenas de entrevistas semanais, eles dificilmente perdem o rebolado. Profissionais da comunicação, sabem vender suas idéias – mesmo quando são frágeis, beirando o absurdo, como acontece em alguns casos.

Fico imaginando o sujeito que não acompanha política – e que faz questão de não acompanhar política – passando pelas quatro entrevistas da semana. Na terça, teria decidido votar na Gleisi Hoffmann. Na quarta, mudaria para o Carlos Moreira. E assim por diante. Acabaria digitando na urna o número do último candidato entrevistado, na certeza de ter feito a melhor escolha possível.

De onde chego a uma outra conclusão: como a maior parte dos eleitores não está mesmo aí para a política – e está longe de ser treinada para identificar bobagens no discurso dos candidatos – acaba comendo com farinha o discurso que estiver mais fresco em sua cabeça. Ou mais presente em sua vida.

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Dinheiro suficiente

Daí que, quem está no poder, com direito à publicidade oficial, acaba com mais chance de se reeleger. E só quem tem chance de mudar isso é quem tem dinheiro suficiente para fazer sua idéia (ainda que seja tola) soar nos ouvidos alheios por mais tempo.

Ou seja: acho que eleição pode não ser uma questão de ter as melhores idéias. E, sim, de repeti-las mais vezes nos ouvidos dos outros. Dos Múcios de plantão.