Marina Silva é parte interessada: Dilma e Temer caindo, há eleições e ela obviamente é candidata. Candidata fortíssima, com chances reais de virar presidente.
Tirando o autointeresse, porém, a postura da Rede Sustentabilidade (a rede criada para dar sustentação a Marina) é muito mais coerente do que a do PMDB (o que nunca é difícil) ou dos outros partidos da oposição. Tirando Dilma, é preciso tirar Temer.
O partido de Marina já avisou que pretende entrar com um pedido de impeachment do vice-presidente.
Dilma caindo (e a cada dia isso parece mais provável), Temer assume. Mas em que condições?
Para a atual oposição, é isso que interessa. Colocar alguém no poder que possa lhe devolver os cargos que há muitos anos ela não ocupa. Serra e os tucanos, todo o pessoal do Democratas e do PPS, o recém-criado Solidariedade, todos estão secos por estatais, ministérios e orçamentos.
Não quer dizer que não haja gente pedindo o impeachment desinteressadamente, apenas por considerar isso certo. Só não tente achar um espécime desse em Brasília, dentro do Congresso Federal.
A questão, dentro da Praça dos Três Poderes, tem muito mais a ver com conquista e divisão de poder do que com moralidade. Não fosse isso, seria inexplicável o gosto que causa no PSDB, por exemplo, a ascensão de Michel Temer.
O vice-presidente fez tudo o que Dilma fez, incluídas aí as famosas pedaladas fiscais que deram origem ao pedido de impeachment que tramita na Câmara. Há assinatura dele em documentos idênticos aos que Dilma assinou. Temer é governo, assim como o PMDB, e compactuou, por ação ou omissão, com todos os atos de Dilma. Está denunciado na Lava Jato. Foi eleito com o mesmo dinheiro. Como pode querem derrubá-la e a ele não?
A explicação única é que o problema, do ponto de vista da oposição, é o PT, que há 14 anos inventou um jeito de ganhar as eleições e tirou os cargos de quem hoje pede seu impeachment.
Temer, se presidente, governará com o outro lado. Para quem só pensa em poder, problema resolvido. Para quem pensa em coerência política, é um horror sem sentido.
A chance de um pedido de impeachment contra Temer prosperar é infinitamente menor do que no caso de Dilma. A oposição, que hoje posa de defensora da moralidade, certamente o apoiaria. O centro, que é por definição o peemedebismo, estará no governo. Quem iria contra Temer? O PT, desmoralizado? Junto com o PCdoB e o PSol? Convenhamos, não parece muita coisa. E além de tudo, Marina não conseguiu nem mesmo articular seu partido a tempo de disputar as eleições – imagine quanto tempo demorará para articular o impeachment de Temer.
O governo de Temer, se houver, será a redenção da centro-direita brasileira que, protegida por deputados desinteressados em investigar a fundo sua conduta, irão se resignar em afastar a presidente que, do ponto de vista deles, cometeu o crime de não estar a seu lado.
Que não se enganem os que querem o impeachment de Dilma por simples coerência moral.
Temer e os que estão com ele não pensam como você.
Fim do ano legislativo dispara corrida por votação de urgências na Câmara
Teólogo pró-Lula sugere que igrejas agradeçam a Deus pelo “livramento do golpe”
Boicote do agro ameaça abastecimento do Carrefour; bares e restaurantes aderem ao protesto
Frases da Semana: “Alexandre de Moraes é um grande parceiro”
Deixe sua opinião