José Janene permaneceu por mais de uma década como deputado federal. Exerceu três mandatos em Brasília. Durante esse tempo, nunca apareceu tanto na mídia quanto agora, depois que deixou de ter mandato público. Primeiro, foi acusado por Roberto Jefferson (PTB) de ser um dos líderes do esquema do mensalão. Acabou se livrando da cassação por seus ex-colegas de Câmara numa sessão realizada no ano passado. Na Justiça, ainda correm as ações sobre o caso. Ele garante que provará a sua inocência.
Nesta semana, uma outra notícia relacionada ao político agitou a mídia nacional. Com base em laudos médicos que atestam uma grave doença cardíaca, conseguiu ser aposentado por invalidez pelo Congresso Nacional. Receberá, por mês, R$ 12,8 mil. Ou seja, o benefício integral reservado aos parlamentares. Ontem, o atual presidente da Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT), voltou a colocar Janene no noticiário: culpou seu antecessor, Aldo Rebelo (PCdoB) por dar a aposentadoria ao paranaense.
O curioso é que embora seja hoje objeto constante de notícias, o ex-deputado pouco fala à mídia. Nem mesmo para se defender. Ontem, abriu uma exceção. Por telefone, falou de Londrina, sua cidade, e defendeu o seu direito ao benefício. Disse que é criticado "por quem não conhece a matéria" e por deputados "demagogos". Falou que está fora da política e disse que sua doença cardíaca é grave e lhe dá uma perspectiva de vida curta. Leia a seguir, os principais trechos da entrevista:
O senhor foi criticado por conseguir a aposentadoria integral. Como o senhor responde a isso?
Eu fui criticado por quem é ignorante na matéria. Paguei por esse benefício. Nós, deputados, descontamos cerca de R$ 1,5 mil por mês.
Quanto tempo os deputados precisam ficar na Câmara para ter direito ao benefício integral?
- São 32 anos. Oito mandatos. Mas o meu caso foi por invalidez. Apresentei os laudos já em 2005 atestando que eu tenho uma doença grave. O benefício já deveria ter sido concedido na época.
Seu colega de Câmara, o deputado Dr. Rosinha, do PT, enviou nota à imprensa dizendo que a sua aposentadoria era "vergonhosa". Como o senhor responde?
O Rosinha é uma pessoa de mal com a vida. Ele é um demagogo. E está fazendo demagogia. Quero ver é se ele abre mão da previdência dele no Congresso.
Outra crítica que foi feita tem relação com a data em que sua aposentadoria foi assinada, um dia antes do fim de presidência do deputado Aldo Rebelo.
Ele deveria ter assinado isso antes. Se não assinasse, poderia ser responsabilizado. Mas ele deveria ter concedido o benefício um ano e três meses antes.
Não houve nenhuma negociação entre o senhor e ele, relativa à eleição para a presidência da Câmara?
Nenhuma. Durante a eleição, inclusive, eu estava com uma crise cardíaca grave. Não participei do processo. E o meu partido, o PP, votou no Arlindo Chinaglia.
O senhor está fora da política?
completamente fora. Não vou a Brasília a mais de um ano.
O que o senhor está achando do novo Congresso?
Nem acompanho. Estou em um tratamento pesado, porque minha doença é muito grave. Tenho uma miocardiopatia dilatada. Mesmo depois de dois transplantes de células-tronco, meu coração continua injetando apenas 31% do que o coração de uma pessoa saudável faz.
O senhor pensa em se candidatar a algum cargo novamente?
Não há a menor condição. Com esse problema, não posso nem dirigir um carro sozinho. Não posso subir escada, não posso carregar peso, não posso nem pegar meu filho no colo. Estou afastado.
O senhor tem falado pouco com a imprensa. Mesmo quando foi absolvido do caso do mensalão o senhor preferiu ficar calado.
Nem tem muito o que falar. Nem pude ir a Brasília fazer a minha defesa. Tive mais votos a favor da minha absolvição do que o candidato do PT teve para chegar ao Tribunal de Contas da União. Isso mostra que há um reconhecimento de que eu sou inocente. E vou provar isso na Justiça também.
O senhor responde a quantos processos?
Processo, nenhum. Tem alguns inquéritos. Ainda não chegou a hora, mas quando for chamado a me defender, vou provar a minha inocência.