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Dizem que, na Idade Média, alguns monges acharam uma solução para um antigo problema. Por respeito à religião, não deveriam comer carne em certos dias. Havia os que não conseguiam se abster, porém. Abusando de uma teoria filosófica na moda, então, o nominalismo, faziam um jogo com as palavras: chamavam a carne de alface, por exemplo, e pronto. Nada mais impedia a comilança.

Os políticos aprenderam há muito tempo como usar esse truque. Enfeitam seu discurso de palavras, as melhores e mais bonitas possíveis. Pergunte a um deles, porém, o que aquilo quer dizer, e veja ele se embananar com a explicação. Tempos atrás, virou moda, por exemplo, dizer que tudo era "republicano". O programa de governo era "republicano". O convite a tal candidato para montar uma coligação era "republicano". Mas o que isso quer dizer? Como a única oposição possível a "republicano" é "monarquista", chega-se facilmente a uma conclusão: não quer dizer absolutamente nada.

Quer ver como funciona o truque? Pegue o nome das duas grandes coligações que disputam o governo do Paraná neste ano. A trupe chefiada por Beto Richa (PSDB) se autobatizou "Novo Paraná". A turma de Osmar Dias (PSDB) escolheu um nome mais longo: "A união faz um novo amanhã". Reparou o que os dois nomes têm em comum, além do tom profético? Sim, a palavra "novo".

Tanto Richa quanto Osmar prometem o "novo". O que querem dizer com isso? Não acredito que seja possível saber. Seria possível dizer que os dois são novos na política? Não. Ambos vêm de famílias tradicionais, já têm passagens pelo Executivo e pelo Legislativo e já estão na política profissional há uma ou duas décadas.

Prometem um novo tipo de governo, então? Também não. Osmar Dias é obviamente o candidato da continuidade da atual gestão. Tem apoio do último governador eleito, Roberto Requião (PMDB), e do atual governante, Orlando Pessuti (PMDB). Richa também não tem como falar em novo modelo: suas propostas (as que se conhecem até agora) não mudam radicalmente absolutamente nada do que se vê no atual governo. Sua gestão na prefeitura também não trouxe nenhum rompimento brusco com o modelo convencional.

Na verdade, nenhum candidato sério a governo de estado pode prometer mudanças radicais. Mesmo um partido socialista, por exemplo, não poderia implantar nada muito diferente num estado.Dependeria de transformações no governo federal. O que se pode esperar de um governante regional é uma boa administração, respeito às leis e às pessoas. Não muito mais do que isso.

Além disso, os governos estaduais não têm margem de investimento grande. O Paraná, como se mostrou recentemente, menos ainda do que a maioria. O que seria possível fazer de tão diferente? Qual é a novidade prometida? Vendo as propostas dos candidatos, registradas na Justiça Eleitoral, também não se vê novidade nenhuma, exceto por ajustes pontuais, pequenas correções de rumo. Todos prometem "manter o que está bom e melhorar o resto". Só.

Por que falar em novidade, então? Para iludir a população. Querem dizer que estamos vendo alface à nossa frente, quando todo mundo pode ver que é um pedaço de carne. Sabem que a população está cansada de políticos, de política, de ouvir discursos vazios. E prometem novidade. Mas essa novidade, em si mesma, é um novo vazio.

Dizia Shakespeare que uma rosa, tivesse outro nome, continuaria exalando o mesmo perfume. O nome não é nada. Palavras são vazias. Novidade? Novo Paraná? Novo amanhã? Veremos. Por enquanto, são só um jeito elegante de mudar o nome da carne para alface.

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