Levy Fidélix, que disputou a Presidência pelo minúsculo PRTB, deve estar decepcionado. Primeiro por só ter obtido 57 mil votos no país inteiro. Depois, porque, ao contrário do que previu em seus segundos de fama na tevê, sua pregação contra os altos tributos no país não mudou em absolutamente nada as práticas dos candidatos que chegaram ao segundo turno.
Serra e Dilma praticamente não falam em cortar impostos. Para Dilma Rousseff, é claro, nem faria muito sentido criticar a carga tributária que o governo Lula vem mantendo. Esteve no governo oito anos e não falou em aliviar o peso para o contribuinte. O PSDB, no entanto, poderia muito facilmente fazer um discurso que agradaria a grande parte do empresariado e dos eleitores. É o discurso de Levy Fidélix: "menos impostos, menos tributos".
Quando se entra no site de campanha de Serra, porém, descobre-se que esse não é um assunto que o candidato quer alardear. Há 20 itens que compõem a seção "Temas em destaque". Nenhum deles tem relação com impostos. Numa outra página, mais escondida, sobre propostas para a economia, há alguma menção a corte de alíquotas. Mas não há nenhuma explicação. Quando o internauta clica ali, cai direto na proposta populista (porque não explicada) do salário mínimo de R$ 600. E só.
Não deixa de ser estranho. Durante quatro anos, empresários reclamam dos impostos. Fazem impostômetros. Criticam o governo. E na época da eleição os candidatos se esquecem do assunto? Parece improvável.
A verdade é que a carga tributária brasileira realmente é elevada. Mais do que isso: o que a população recebe de volta dos governos, em troca do que paga, são serviços de má qualidade. Delfim Netto, numa de suas tiradas, já disse que o Brasil era uma espécie de InGana. Cobra impostos como a Inglaterra, mas tem serviços como os de Gana.
Mas, se é assim, por que os candidatos não falam em mudar? Em primeiro lugar, porque para eles é interessante que continue sendo assim. Arrecadação alta é um pressuposto básico para poder fazer obras e para manter programas sociais. E é isso, antes de mais nada, que dá votos para um governo.
Em segundo lugar, ninguém fala em mudar isso porque o Brasil parece ter entrado numa espiral crescente de oferta de serviços à população. Além de ter educação e saúde gratuitas e universais, o governo passou a manter programas de distribuição direta de renda e de renda mínima para as famílias.
O aumento de programas sociais de todos os tipos é responsável, em boa medida, pelos índices de redução da pobreza e da miséria no país nos últimos anos. Mas tem também um custo, que só se mantém se alguém continuar entrando com o dinheiro dos impostos.
E esse é o dado interessante. A atual conjuntura, com um governo que cresceu em popularidade justamente por ter beneficiado as classes mais pobres da população, torna absolutamente inviável a algum candidato dizer que irá cortar benefícios. E como em outros gastos - custeio e pessoal, principalmente - nossos governantes parecem ter uma preguiça imensa de mexer, fica difícil dizer que o Estado vai ser menor. (Até porque um Estado menor acomoda menos aliados...)
E, assim, de um jeito ou de outro, o Brasil vai caminhando para ser uma social-democracia - o tipo de Estado que existe na Suécia, por exemplo - em que a população paga muito imposto e recebe mais serviços por isso. Quer dizer: por enquanto, estamos na fase de pagar os impostos. O que é preciso ver é se o próximo governo será capaz de tornar a contrapartida para os brasileiros um pouquinho melhor. Ou seremos sempre a Suécia que não deu certo. Para infelicidade de Levy Fidélix.
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