O senso comum nos diz que a vida não tem preço. Mas, falando cientificamente, é possível sim estabelecer quanto precisamos gastar para que cada um de nós tenha dias a mais sobre este planeta. E a conta foi feita pelo Ipea, ligado ao governo federal.

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De acordo com o Texto para Discussão 1.370, elaborado por Alexandre Marinho, Simone Cardoso e Vivian Almeida, o Brasil precisaria aumentar em 1% os gastos per capita com saúde para garantir uma bela vida extra à população. O gasto adicional representaria cinco anos a mais, em média, para o brasileiro.

Veja bem: seriam US$ 15,10 a mais para cada brasileiro por ano. Fazendo a conta pelo dólar do dia, dá para dizer que os cinco anos extras para cada cidadão custariam ao governo federal R$ 35 por ano. Uma pechincha, não?

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Na verdade, como o sistema de saúde público ainda é bastante deficiente – embora muito bom em algumas áreas específicas – o Ipea chegou à conclusão de que esta, entre todas as analisadas, é a terra em que um investimento adicional em saúde mais traria benefícios à população. Na Islândia, um dos países avaliados, adicionar 1% de gastos em saúde representa pouco ou quase nada de retorno aos islandeses.

Curioso, porém, é que mesmo sabendo de tudo isso, os governos continuam reduzindo seus investimentos em saúde. O governo federal, que banca o Ipea, deixa a tabela do SUS defasada. O governo do estado insiste em computar outros gastos como se fossem de saúde, para cumprir o mínimo constitucional. Em Curitiba, sabe-se muito bem quanto pode demorar uma consulta com o especialista no postinho.

Exemplo do descaso com a saúde da população é a história do menino de Foz do Iguaçu que passou cinco dias com uma bala na cabeça, sem que os médicos se importassem em fazer um raio X para descobrir qual era o problema com a criança. Uma médica chegou a receitar um anti-inflamatório e mandar o paciente para casa. A família teve de desembolsar R$ 100 para fazer o raio X e curar o garoto.

Colocar R$ 35 por brasileiro na conta é pesado. Somos 190 milhões de pessoas. Seriam R$ 6,5 bilhões a mais por ano. Somos pobres. Mas será que isso é impossível?

O problema não é nem a falta de dinheiro. E sim a falta de preocupação com serviços públicos – especialmente com aqueles que servem principalmente a quem tem pouco dinheiro.

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Quem anda em ônibus superlotados tem de encarar a vida assim mesmo. É preciso alguém cair na rua e ser atropelado para que nos lembremos do assunto. (É claro que quando os aviões – que servem aos ricos – atrasam, cria-se um comitê no governo federal para se discutir o assunto).

Quem precisa de um documento no Detran fica três horas e meia numa fila que começa com o sol nascendo. Quem precisa de um exame de saúde, então, tem de rezar antes de sair de casa. (É claro que quem tira passaporte marca horário por e-mail e é atendido sem demora).

São US$ 15,10 a mais por brasileiro. O que precisamos decidir é se valemos isso. E se o governo anunciará alguma medida do gênero. Sem contar a possibilidade de aparecer algum engravatado na tevê falando que a medida não é muito boa – afinal, aumentando a vida da população, onde vão parar as contas da Previdência?