• Carregando...

Política, na vida real, é um jogo pesado. Todo tipo de interesse está presente. Todo tipo de lobista está em ação. Em Curitiba, por exemplo, estão em disputa orçamentos anuais de R$ 3,5 bilhões, contratos de obras milionários, licitações que envolvem as maiores empreiteiras do Brasil. É pressão de todos os lados. Só alguém de pulso muito, muito firme poderia comandar isso sem virar bandalheira, sem ceder à imensa pressão dos empresários.

E, no entanto... Todos os principais candidatos à eleição deste ano fazem questão de fazer papel de ingênuos, quase bobinhos. O atual prefeito, Beto Richa, faz aquela cara de bom moço, sempre bem penteadinho, mais parecendo um urso de pelúcia. Sua principal adversária, Gleisi Hoffmann, não é muito diferente. Com um penteado irretocável – e caro –, discursa como quem conta histórias para alguém dormir.

Candidato do virulento Roberto Requião, Moreira entrou na onda do bom-mocismo. Mostra sua família, diz que gosta de passear, que é um cara do bem. E o Fabio Camargo, veja só, diz que seu programa favorito é ficar com a família, quem sabe ir a uma pizzaria, visitar os avós...

Acho que esse pessoal pensa que todo eleitor é bobo. Que só se passarem uma imagem intocável, de santinhos, o povo vai confiar neles. Pensam que só sendo politicamente corretos e sorridentes, só se fizerem cara de paisagem evitarão desagradar os eleitores.

Acham que com isso estão mostrando que têm bom caráter. Ledo engano.

Ter caráter significa, muitas vezes, o oposto disso. É ter posições fortes. É não ter vergonha de errar, nem de ser humano. É admitir imperfeições. É mostrar a verdadeira cara, e não esse visual maquiado, feito em Photoshop.

Ninguém que disputa uma eleição desse nível, para valer, tem o nível de ingenuidade que os candidatos querem nos fazer crer. Todos eles são pessoas ambiciosas, com um certo grau de egocentrismo. Do contrário, dificilmente teriam chegado aonde chegaram.

Grandes líderes não costumam ter vergonha de seu temperamento. Pense em César, Napoleão ou Churchill. No Brasil, quem fez História recente foram pessoas de caráter forte, como Brizola, Lula ou Mário Covas. Mas nossos políticos preferem nos fazer de tolos. O que só faz diminuir qualquer possível interesse por eles.

Hipocrisia

Política tem muita hipocrisia. Quem lê sobre o assunto tem de se acostumar com isso. Mas às vezes a coisa passa do limite. Vejam por exemplo a nota divulgada nesta semana por três partidos sobre o caso da Abin. "A mera hipótese de que esse fato venha a permanecer não-esclarecido, impune, faz girar para trás vinte anos a roda da democratização do Brasil." Belo texto, não? Seria, não fosse um dos partidos signatários o Democratas, herdeiro direto da Arena, partido que governou o país durante a ditadura. Vá entender...

Sem pânico

Meses atrás, a inflação teve um pico inusitado. A mídia delirou. Matérias dos principais jornais televisivos mostravam que as máquinas remarcadoras tinham sido ressuscitadas. Quem nunca havia convivido com a hiperinflação que se acostumasse com a idéia. O pânico estava instalado. O caos se aproximava. Um deputado de oposição aproveitou para dizer que a inflação tinha nome: Lula. Ontem, já se registrou deflação novamente em Curitiba. Os profetas erraram todos.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]