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Beto Richa começou ontem a demitir gente no seu primeiro escalão. É o plano B entrando em ação. O primeiro plano, que não funcionou, era pacificar a população dizendo que a polícia não tinha culpa na tragédia ocorrida no Centro Cívico. Houve 213 feridos, mas o governador quis vender a ideia de que a polícia “só estava defendendo sua integridade” contra alguns arruaceiros. Para mostrar cabalmente a periculosidade dos manifestantes, chegaram a divulgar foto de manifestante com estilingue.

A versão de que não houve excessos da polícia não colou por um único motivo: era inacreditável. Os fatos estavam na tevê, nos jornais e na internet. A não ser que se acreditasse na hipótese improvável de black blocs terem tomado de assalto as redações de todo o país (e até do New York Times), a notícia estava evidentemente bem relatada. A uma simples movimentação em uma grade, a Políci Militar reagiu como se estivesse diante de perigosos guerrilheiros.

Mas a versão não se sustentava:

– O governo disse que houve confronto, algo meio de igual para igual. Falou em 20 policiais feridos. Não surgiu uma mísera foto de ferimento em PM. O único caso era o de um policial que postou foto na internet farsescamente coberto de tinta espalhada de maneira cuidadosa para não manchar a farda. Ficou merecidamente conhecido como “Soldado Groselha”.

– O governador afirmou que havia prendido black blocs que atacaram a PM. A OAB e a própria Defensoria Pública, ligada ao governo, diz que os 14 detidos eram estudantes, professores e servidores. Ninguém ligado ao movimento black bloc.

– O governo diz ter apreendido uma mochila com pedras, coquetéis molotov e paus. A OAB diz que os inquéritos não ligam esses materiais a qualquer manifestante. Estão soltos por aí e não parecem ter qualquer relação com a manifestação.

– Apareceu uma foto na página “Amigos do Beto” dizendo que um carrinho de bebê serviu como abrigo de bombas dos truculentos manifestantes. Imagens posteriores mostraram que se tratavam de pamonhas de milho.

Somado tudo, chega-se à conclusão de que perigosos professores armados com pamonhas atacaram policiais que sangraram groselha. Isso, diz o governo, só podia ter sido contido a bombas de gás lacrimogêneo.

Vendo que não havia como defender essa farsa, começou um outro jogo, esse interno. Quem pagaria pelo erro? É a hora de jogar a culpa no outro. O secretário Fernando Francischini foi o primeiro a apontar dedos. Disse que tudo ficava na conta da tropa. Ele só cuida da estratégia macro.

Não deixa de ser curioso. No mês passado, quando se anunciou a estatística de que os homicídios tinham caído 17%, Francischini bateu no peito: o mérito era também dele. Óbvio que o secretário não estava nas ruas prendendo ninguém nem fazendo ronda ostensiva. Mas, nesse caso, o trabalho da tropa lhe pertencia. Num caso em que tudo ocorreu diante de seus olhos, ele alega que não teria como interferir?

É claro que alguém vai pagar por tudo. Até agora, as vítimas mais prováveis são o secretário da Educação e o comandante da PM. O coronel está no topo da hierarquia militar. Faz sentido que responda. Mas não parece fazer o menor sentido que os seus chefes políticos – a quem ele deve obediência – simplesmente se isentem de culpa. Richa e Francischini estavam, queiram ou não, no comando. Tivesse dito uma palavra, e as bombas parariam. Não disseram nada. No mínimo, precisam responder por essa omissão.

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