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Em tese, o PSDB governou o país de 95 a 2002. Em tese, o governo do PT começou em 2003 e termina em maio. O PMDB inicia agora nova fase, com novo governo. Isso é o que dizem os registros oficiais. Escavando um pouquinho vê-se que o PMDB sempre foi o governo. PT e PSDB são módulos que se encaixam nesse imenso corpo centrista e impermeável a mudanças.

Ao longo de duas décadas, a cabeça do governo foi trocada. O corpo seguiu sendo formado pelos Temer, pelos Calheiros, pelos Cunhas, pela imprescindível base a que cada presidente foi se rendendo na esperança de governar – e, como na anedota de Ambrose Bierce, ganhando do Congresso plenos poderes para gerir o país como bem quisesse, desde que jamais os usasse.

É certo que os governos petistas e tucanos tiveram diferenças. Os tucanos fizeram reformas institucionais, preferindo o longo ao curto prazo. Os petistas apostaram em programas sociais. FHC tentou diminuir o Estado, incorrendo em erros como a gestão pífia do ensino superior público. O petismo inchou o Estado sem torná-lo necessariamente mais eficiente.

Mas o básico permaneceu. Uma das características desse modelo, segundo o filósofo Marcos Nobre, da Unicamp, é a blindagem do sistema político contra a sociedade. Para ele, o PMDB, o centro fisiológico que domina o Congresso, conseguiu convencer tucanos e petistas de que era necessário construir uma supermaioria parlamentar para se conseguir governabilidade. Ou, como diz o famoso adágio de Brasília, sem o PMDB não se governa.

Refém desse modelo, cada governo se sucedeu sem conseguir implantar a verdadeira agenda para a qual foi eleito. As pautas tradicionais do petismo, por exemplo, foram excluídas por radicais. O que faz lembrar a história que Tolstoi conta de Napoleão falando com o rei que havia colocado sobre o trono de Nápoles: “Eu te fiz rei para reinar à minha maneira, e não à tua”. Reis que não mandam, partidos que pouco governam.

Mesmo no reinado petista, industriais mergulharam em isenções fiscais; rentistas douraram-se ao sol dos juros de Henrique Meirelles; as montadoras se lambuzaram no IPI reduzido. A Fiep nadou de braçada; e agora diz que não pagará pelo pato que comeu. E, claro, outra coisa não mudou: o PMDB e sua versão à direita, o PP, continuaram fazendo indicações para a Petrobras e para outras estatais, para ministérios e autarquias, hoje sabe-se mais do que nunca com qual intenção.

O PMDB, agora, eliminou os intermediários. O centro que continha os governos à esquerda e à direita com longos tentáculos agora segue seu próprio caminho. O pretexto é o fim da corrupção, além da real inépcia de Dilma. O plano, porém, sabe-se, é bem outro.

Livre das amarras, o PMDB mostrará sua própria face, governará sem o rosto de parceiros que tentem puxá-lo para lá e para cá. Levará ao centro do palco suas práticas, inclusive com a formação de novas supermaiorias e com a distribuição de cargos nas estatais – com tudo o que isso significa.

Não há de ser bonito de se ver. Mas a essa altura o peemedebismo, pelo menos até 2018, parece inevitável.

PS: Antes que a Ponte para o Futuro flexibilize também isso, este repórter sai de férias pelo mês de maio. Enquanto isso, como disse o sábio Eduardo Cunha, que Deus tenha misericórdia desta nação.

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