Os comprimidos do genérico de Efavirenz que começarão a deixar o laboratório do Farmanguinhos, na próxima semana, são um alento para os brasileiros. Não só para os contaminados pelo HIV, nem somente pela economia milionária que os remédios nacionais trarão para nosso problemático sistema público de saúde. Mas também pelo que o remédio representa de positivo na política nativa: é um raro e bom exemplo de como as coisas podem funcionar quando há boas ideias e boa vontade.
São vários os motivos de comemoração. Em primeiro lugar, o genérico de Efavirenz representa um caso em que o país decidiu tomar uma atitude quando se viu diante de um descalabro. A fabricante do remédio, a multinacional Merck, insistia em cobrar do Brasil um preço bem mais alto do que o praticado em outras partes do planeta. O governo federal tomou uma medida inédita e acertada: decretou o licenciamento compulsório e passou a importar um genérico indiano.
Mais do que isso: a produção do Efavirenz tupiniquim representa um investimento em ciência e tecnologia numa terra que ainda sofre ano a ano para emplacar no orçamento um troco a mais para a área. Neste ano, por exemplo, o glorioso Congresso Nacional decidiu reduzir os gastos já minguados da ciência.
O laboratório carioca Farmanguinhos, ligado à Fundação Oswaldo Cruz, não apenas conseguiu fazer um genérico do Efavirenz com preço semelhante ao do comprimido indiano como também anuncia para este ano a produção do primeiro comprimido do mundo para crianças soropositivas. Ah, as maravilhas que um pouco de investimento na área certa pode trazer.
Ainda há pelo menos mais um bom motivo para celebrar a conquista: a política nacional dá um salto de qualidade quando um governo continua com os bons programas iniciados pelo seu antecessor ainda que se trate de um antecessor de outro partido e de outra cepa. O programa de prevenção e combate à aids do governo brasileiro é exemplo para o mundo em parte porque os governantes foram tocando as ideias da melhor maneira possível não importando se seus líderes estavam filiados ao PSDB ou ao PT.
Antirretrovirais genéricos são bons, não importa se a ideia dos genéricos partiu de Serra ou se a patente do Efavirenz foi quebrada por um ministro de Lula. Importa são os milhares de cidadãos doentes que serão beneficiados pela soma de esforços feitos no país.
Textos sobre política costumam ser ranzinzas, tendendo quase sempre à denúncia. É que na maior parte dos casos não há motivo para ser diferente. As pessoas em cargos públicos costumam mais decepcionar do que atingir conquistas importantes. Mas quando há razão para elogios, não se deve perder a oportunidade.
Até para que nos lembremos que a política vale a pena. E que boas coisas podem vir de homens públicos. Por incrível que pareça.
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