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O que a falta de fiscalização da lei seca tem a ver com o sexo do bebê que uma brasileira carrega em sua barriga? A pergunta pode parecer absurda. Infelizmente, não é. A falta de atuação das autoridades brasileiras – em diversas áreas – é tão grande que estamos arriscados a ver até mesmo a composição de nossas famílias influenciada pela incompetência alheia.

Vamos aos fatos: a natureza, sempre sábia, deu um jeito de equilibrar o número de homens e mulheres sobre a face da terra. Em cada lugarejo, nascem meninos e meninas sempre na mesma proporção. O sexo masculino sai em ligeira vantagem: coisa de 105 nascimentos para cada 100 meninas. É que os meninos são mais frágeis no primeiro ano de vida. Depois de 12 meses, a situação fica, em geral, perfeitamente equilibrada.

Essa situação só muda, segundo demógrafos, em caso de tragédias. Exemplo? Depois da Guerra do Paraguai, quando brasileiros e argentinos dizimaram a população masculina do país vizinho, as paraguaias que conseguiam engravidar – de que homem, se quase todos tinham morrido? – passaram naturalmente a ter mais meninos. Mais um mistério da natureza.

Nesta semana, o IBGE publicou uma estatística sobre a população brasileira com a seguinte informação: hoje, já existem 3,4 milhões de brasileiras a mais do que brasileiros. Em 2050, a persistir a atual situação, os demógrafos acreditam que a desproporção aumentará. Haverá 7 milhões de mulheres a mais do que homens no país.

Claro que nós, brincalhões como somos, preferimos fazer piada com a situação: a dificuldade de se arranjar um namorado ou o domínio que as mulheres terão sobre os homens, cada vez mais acuados em seus pontos de vista. São boas piadas, mas não mais do que isso.

O que existe, na verdade, é uma tragédia social, apontada pelo próprio IBGE: a causa da desproporção é a morte precoce dos homens, maiores causadores e maiores vítimas da violência urbana. Gente assassinada. Mortos pelo tráfico. Mortes causadas pelo trânsito cada vez mais violento.

Tudo isso tem a ver com nossos próprios erros. E tem a ver também com a absoluta omissão do Estado no caos que nos cerca. Inventaram uma lei que proíbe os motoristas de dirigir alcoolizados. Fantástico. Mas e cadê alguém para fazer valer a lei? A polícia vai à favela, que nem deveria existir, e acaba que mais um favelado é morto, só que dessa vez por um policial. E cadê alguém para ir aos locais em que todo mundo sabe que o tráfico de drogas existe?

Desequilíbrio

A bagunça em que vivemos já é suficiente para desequilibrar aquilo que a natureza conseguiu sempre manter igual. Talvez em breve forcemos o misterioso mecanismo da biologia humana a entrar em ação novamente, como depois de um combate entre países: e teremos mais homens nascendo do que mulheres, como no Paraguai de 1870.

Eis algo que nossos governantes poderão colocar em seus currículos daqui por diante. Por sua incompetência, interferiram no próprio curso da natureza.

Não é pouca coisa.

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