Um grupo de vereadores de Curitiba foi esta semana a Bogotá, na Colômbia, e a Santiago, no Chile. Por incrível que pareça, eles não usaram dinheiro público para fazer a viagem. Viajaram, também, durante o recesso parlamentar. Portanto, a população não tem nada a perder com isso, certo? Ainda mais que os nobres vereadores foram aprender mais sobre transporte público. E pretendem depois usar as idéias que conheceram para aprimorar o nosso sistema curitibano.
Seria a hora dos aplausos. Mas na verdade há alguns pontos a ser questionados na viagem dos nossos vereadores, membros da Comissão de Transporte da Câmara. Primeiro, claro, um detalhe engraçado. Eles viajaram para ter novas idéias sobre transporte. E decidiram conhecer duas cidades que basearam seus sistemas de ônibus... no transporte de Curitiba! Foram conhecer a cópia para melhorar o original.
Um pouco mais complicado, porém, é outro aspecto da viagem. Segundo vereadores de oposição, a viagem teve os custos cobertos por uma empresa privada. E do ramo do transporte coletivo. "Acho importante fazer esse tipo de trabalho. Mas tinha de ser uma viagem oficial paga pela Câmara e não por uma empresa privada", afirma Professora Josete, do PT, única a recusar o convite.
Josete diz que o próprio presidente da Câmara, João Cláudio Derosso, afirmou que o convite partiu da Volvo, fabricante dos ônibus de Curitiba e das duas cidades visitadas. A empresa, ontem, afirmava que não havia feito o convite. No entanto, em todas as notícias publicadas no site da Câmara sobre o tema há representantes da Volvo acompanhando a viagem e recepcionando os vereadores curitibanos.
O curioso, de qualquer maneira, é que a viagem ocorra num momento em que a cidade discute a criação de sua primeira linha de metrô, ligando o Norte ao Sul da cidade. Depois, há quem estranhe quando a cada discussão sobre transporte sobram vereadores defendendo que Curitiba nunca precisará de metrô. Preferem a continuidade do ônibus até o fim dos tempos.
Faz sentido. Até porque não são eles que andam espremidos nas linhas às seis da tarde. Ou alguém já viu um vereador de Curitiba pegando ônibus por aí? Só se for em Santiago. Ou em Bogotá. Aqui, isso não acontece.
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Em dívida
Os vereadores de Curitiba, aliás, estão em dívida com o transporte público da cidade faz tempo. Um ano atrás, em agosto de 2006, a prefeitura enviou para a Câmara Municipal uma proposta de lei para regulamentar o setor. Um dos pontos é, de longe, o mais importante. Cria a obrigação de licitação para a escolha das empresas que prestam serviço de transporte em Curitiba. Hoje, apenas um punhado de empresas que nunca participaram de licitação têm direito ao negócio. Entraram no tempo dos bondes e vão chegando ao século 21 com os lucros do milionário negócio nas mãos. Como se fosse por direito divino. Pois até hoje a Câmara não votou o projeto. E a prefeitura diz que, enquanto isso não ocorrer, não realizará a licitação para escolher novas empresas. De quanto tempo mais eles precisam? Só os vereadores podem responder.
Numa hora dessas?
Com toda a confusão na aviação brasileira, adivinhe só o que estava fazendo ontem o comandante da Aeronáutica brasileira? O brigadeiro Juniti Saito, em meio ao caos que deveria estar consumindo a atenção integral de toda a estrutura de aviação no país, arranjou um tempinho para entregar medalhas. Era aniversário de Santos Dumont. Ao invés de investigar porque o invento do brasileiro anda causando tragédias por aqui, o brigadeiro achou mais interessante distribuir honrarias em nome do inventor. Três deputados federais paranaenses se dignaram a receber a medalha: Homero Barbosa Neto, Gustavo Fruet e Max Rosenmann. Sinceramente, não parece o momento para comemorações e homenagens.
Mau gosto
Por falar em acidente, gente ligada ao governo comemorar os problemas do avião da TAM é o fim da picada. Agora, a oposição celebrar o episódio todo como uma derrota do governo também não é lá muito bonito. Política é uma coisa a se deixar de lado num momento como esse.
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"O povo deve ser tomado em doses bem pequenininhas."
Ralph Waldo Emerson, escritor norte-americano.
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