Falando com qualquer um que seja próximo ao governo Beto Richa hoje, a impressão é uma só: o governador não poderia ter dito, de maneira alguma, ao saber da prisão de Luiz Abi, que os dois só tinham relações “sociais”. Primeiro, porque não é verdade. Segundo, porque era evidente que a história não duraria mais do que vinte e quatro horas. Ainda mais em tempos de câmeras digitais espalhadas por todo lado e de documentos disponíveis na internet.
De lá para cá, apareceu de tudo. Primeiro, uma doação de campanha. Depois fotos dos dois em eventos em todo canto no Paraná. Depois, fotos de Richa e Abi juntos em viagem ao Líbano. Depois, veio a informação de que Luiz Abi já trabalhava para Beto na Assembleia em meados dos anos 90 – ou seja, são pelo menos duas décadas, vinte anos de relações sociais. E ao parentesco “distante” se somam cada vez mais histórias de amizade e novos laços.
A reação parece ter sido esboçada no momento do susto. Sabia-se desde o princípio que a prisão de Abi, como disse um aliado naquele mesmo dia, “abria as portas do inferno”. Antes disso, a prisão de Marcelo Caramori já havia assustado. Caramori, acusado de estupro de vulnerável, é outro que o governador diz mal conhecer, apesar da tatuagem no braço dizendo que ele era “100%” Beto. Apesar das fotos juntos.
Quando Caramori falou, a casa de Luiz Abi caiu. Abi sabe muito mais do que Caramori – o “Tchello”, como o governador disse em entrevista à tevê. O susto deve ter sido grande. E dá para entender o impulso de tentar manter o problema a distância. Mas isso só abriu margem para que a cada dia alguém ache uma foto ou um fato novo para mostrar que as coisas não são bem assim.
O que se sabe até o momento? Pouco. O que se especula? Tudo. A certeza é que o “primo” do governador tinha trânsito no Palácio Iguaçu – do tipo que entrava no gabinete que quisesse, na hora que quisesse, sem pedir permissão para ninguém. Coisa raríssima em qualquer governo. O que se diz é que a influência teria sido suficiente para fazer pelo menos três secretários e diretores de duas estatais, além de postos importantes, “estratégicos”, na definição dada por Caramori ao Ministério Público.
A impressão de quem segue o governo é de que o Gaeco realmente fechou o cerco em cima de algo importante, embora ninguém saiba precisar exatamente do que está se falando. Pouca coisa, não é. Por enquanto, exceto pela possível fraude na escolha de uma oficina mecânica em Londrina, por “meros” R$ 1,5 milhão, o resto está mal documentado – e muita gente diz que o tamanho total divulgado pode não passar de folclore criado em torno da eminência parda. Pode ser.
Mas quem conhece o governo realmente por dentro diz que o clima nunca foi tão pesado quanto nas últimas duas semanas. Até na Assembleia a coisa desandou. Todos sabem que o governo vive seu pior momento – e que isso nem tem mais a ver com pagamentos, falta de dinheiro ou projetos impopulares. Vinte anos de amizade e parceria são muita coisa para jogar no lixo. Ou para simplesmente apagar, como se não fosse nada.
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