Quem aprova o que quer ouve o que não quer. Nossos ilustres deputados estaduais aprovaram uma aposentadoria privada com dinheiro público. Garantiram renda superior a R$ 10 mil para si próprios. E agora vêm reclamar que a sociedade e a imprensa não gostaram da brincadeira. Nelson Justus, o presidente da Assembléia Legislativa, diz que a imprensa foi "um pouco agressiva". Que coisa, não, deputado?
Além de aprovarem a transferência de dinheiro da conta do povo para a deles, os deputados ainda se esmeraram em dar declarações tortuosas sobre o assunto. Antônio Anibelli disse a esta Gazeta que "está na moda bater nos deputados", afirma. "Por qualquer coisinha já estão batendo. Olhe o que estão fazendo com o Renan Calheiros lá em Brasília." Se ele acha que um dos maiores escândalos da história do Senado uma "coisinha"... Aliás, para falar a verdade, Calheiros nem deputado é.
Alexandre Curi disse que a aposentadoria é um avanço porque, assim, os deputados podem se dedicar só à Assembléia e deixar de fazer outras atividades. Será que nossos parlamentares andam fazendo bicos para complementar a renda? Dá mesmo para imaginar o próprio Alexandre Curi fazendo curso de bijuterias para garantir o bufê de seu casamento. Ou o líder do governo, Luís Cláudio Romanelli, tentando empurrar um produto da Natura para os colegas de bancada.
Antônio Anibelli, em mais uma sábia declaração, disse que em época anterior os deputados extingüiram um regime de aposentadoria por besteira. "Os idiotas cederam à pressão da imprensa", afirmou. A imprensa, nesse caso, é um sintoma do que pensa a sociedade. Um jornal só existe se diz o que seus leitores pensam. Portanto, ouvir a imprensa, de certa maneira, é ouvir os eleitores.
Mas se não ouvem o povo nem os jornalistas, os deputados podem pelo menos ouvir uma autoridade que está bem próxima a eles. Em entrevista à coluna concedida ontem, o capelão da Assembléia, padre José Aparecido Pinto, foi comedido em seus comentários. Não quis criticar de frente a decisão dos deputados. Mas disse que os políticos precisam atuar dentro dos princípios cristãos. E falou à maneira de um sacerdote, por meias palavras. "É aí que você distingue quem tem compromisso público; quem tem compromisso com o grupo, com a classe; e quem tem compromisso pessoal, que é pior, que quer garantir o poder, o salário".
Se a voz do povo não for a voz de Deus, como parece não ser para nossos deputados, talvez a voz do padre seja. Seria prudente ouvi-la.
Prefeito sortudo
Esse tal Richard Daley, prefeito de Chicago, é mesmo um homem de sorte. Primeiro, por conseguir se eleger diversas vezes seguidas para o mesmo cargo. Está há 18 anos à frente da prefeitura. Nesta semana, porém, Daley (foto) conseguiu um feito ainda mais raro. Em Curitiba, foi conhecer o sistema de transporte da cidade. E, vejam só: conseguiu pegar um ônibus com lugares vazios! Decerto saiu daqui elogiando, dizendo que o povo reclama de barriga cheia. Dá até para imaginar a cena do pessoal da Urbs dizendo para o motorista: "Pelo amor de todas as coisas sagradas, não pare em nenhum ponto antes de pegar o homem!"
Casamento socialista
Há gente maldosa criticando o excesso de luxo da festa de casamento de Alexandre Curi, marcada para hoje à noite. Comentaristas mais ácidos andaram até dizendo que se gastou o equivalente a um carro popular com a compra de charutos cubanos para os convidados. Consumismo desvairado? Nada disso. Na verdade, o nobre deputado se lembrou de comprar os charutos justamente da ilha de Fidel Castro. Trata-se claramente, portanto, de uma maneira de financiar la revolución.
De novo?
Alvaro Dias voltou dos Estados Unidos. Preferiu não criticar Roberto Requião. Dizem por aí que sonha em obter o apoio do governador para sua nova candidatura ao Palácio Iguaçu, em 2010. Se isso viesse a acontecer, seria uma prova de que a política por essas bandas dá muitas voltas mas retorna sempre ao ponto de partida. O Paraná é o único estado do país a ficar 20 anos com os mesmos dois governantes se revezando Requião e Lerner. Se Alvaro voltasse, seriam sete mandatos com só três governadores.
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"Tem gente que sonha com realizações importantes. E há quem va lá e realize."
George Bernard Shaw, escritor irlandês.
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