500 soldados conseguem dar segurança a 2 milhões de habitantes?

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Teriam os paranaenses, hoje, a oportunidade de matar a mãe de todas as suas curiosidades? Faz tempo que eles querem saber por que a violência e a criminalidade cresceram tanto no estado nos últimos sete anos e esperam que o secretário da Segurança Pública, Luiz Fernando Dela­­zari, que à tarde estará na Assembleia para falar aos deputados, enfim dê a resposta tão ansiosamente esperada e por tantas vezes adiada.

Delazari não costuma dar esse tipo de explicação. No lugar dela, apresenta o mesmo discurso que tem na ponta da língua. Provavelmente vai querer repetí-lo no plenário da Assembleia: vai dizer que nem ele nem o governador Roberto Requião têm culpa no que está acontecendo de ruim, pois nunca antes na história do Paraná um governo investiu tanto em segurança pública quanto o atual.

Os números relativos aos investimentos, alardeados pelo secretário, são contestados. Mas admitindo que sejam verdadeiros chegaremos então a uma outra triste conclusão: o governo está sendo vilmente derrotado pelos criminosos, pois se os gastos cresceram e a violência ainda mais, é sinal de que ou os investimentos foram insuficientes ou o dinheiro público foi mal empregado ou, ainda, os bandidos se mostram bem mais competentes do que as autoridades designadas para derrotá-los.

É sobre estes pontos que Delazari e os deputados en­­carregados de inquiri-lo devem dedicar seus esforços visando ao esclarecimento da população apavorada. Há esperança de que isto aconteça? Ou teremos mais uma tarde de muito falatório e pouco conteúdo?

Os números do deputado Martins

Se o secretário Delazari não souber dizer porque o crime é maior que as verbas do governo, o deputado Luiz Carlos Martins (PDT) tem pelo menos algumas. Ele as apresentou ontem, didaticamente, ao plenário da Assembleia, numa antecipação útil para os debates desta tarde. Com dados oficiais, o parlamentar mostrou que:

- Em 2002, a Polícia Militar dispunha de um efetivo de 18.700 homens para todo o estado (que já era insuficiente proporcionalmente à população).

- Só em 2003, primeiro ano do governo Requião, 1.230 policiais requereram aposentadoria, alarmados com os boatos de que, se deixassem o tempo passar, perderiam vantagens.

- Nos anos seguintes, 700 policiais, em média, seguiram o mesmo caminho da aposentadoria a cada ano. Muitos outros arranjaram emprego melhor remunerado e pediram baixa.

- No total, de 2003 até 2009, a Polícia Militar perdeu quase seis mil homens. No mesmo período foram contratados 4.200. Seu efetivo hoje é de pouco mais de 17 mil, ou cerca de 1.700 soldados a menos do que no início do governo.

- Pior: pela lei a PM deveria ter atualmente 21.583 ho­­mens. Logo, a defasagem real chega a cerca de 5 mil.

- Do saldo de 16 mil soldados, 3 mil pertencem ao Corpo de Bombeiros – gente que não está nas ruas para combater criminosos, mas incêndios.

- O Comando do Policiamen­­to da Capital (CPC), responsável pela área da maior taxa de criminalidade do estado, dispõe de 3 mil homens, dos quais boa parte lotada no Batalhão da Polícia de Trânsito (BPtran) e no Batalhão de Polícia de Guar­­da, responsável pela guar­­da externa dos presídios.

- Lembre-se também: 25% do efetivo sempre estão em férias, de folga, em licença ou trabalhando na burocracia. Sobram para as ruas, portanto, 1.500 homens.

- Divida-se este contingente por três turnos diários e se verá que o CPC dispõe de uma média de apenas 500 soldados por turno cuidando da segurança de 2 milhões de habitantes de Curitiba e redondeza!

E depois ainda perguntam porque o índice de criminalidade da Grande Curitiba já é bem maior do que a da violenta São Paulo. O secretário poderia explicar porque isso acontece apesar de tanta verba que, como nunca antes na história, está sendo aplicada.