Houve tempo em que as desgraças que se abatiam sobre o Paraná eram de responsabilidade alheia. Se as finanças iam mal, isto se devia à perseguição política da União, que se recusava a liberar empréstimos. Se greves e manifestações pipocavam, a resposta era a mesma. Até imaginários black blocs foram apontados como os elementos que provocaram a batalha sangrenta de 29 de abril.

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Olho vivo

Reintegra 1

A diretoria da Copel se reúne nesta terça-feira (16) e pode tomar polêmica decisão sobre um dos itens da pauta: a reintegração do ex-empregado Antonio Cezar Bordin aos quadros da estatal, demitido por justa causa em 2003, acusado de facilitar a compra fraudulenta de créditos tributários da massa falida da Olvepar. O negócio deu prejuízo de R$ 39 milhões à companhia. Já muito atuante no ramo, o doleiro Alberto Youssef estava metido no negócio.

Reintegra 2

A demissão foi julgada em todas as instâncias da Justiça trabalhista e em todas o ex-funcionário foi derrotado. Mas eis que, em 28 de maio último, o Tribunal do Trabalho recebeu importante comunicação: as duas partes, isto é, Bordin e a Copel, estavam negociando amigavelmente a reintegração e “demais itens” decorrentes.

Reintegra 3

Diante do aventado acordo, o julgamento final foi adiado para depois da reunião da diretoria. Sobrou uma curiosidade: o que quer dizer “demais itens”? Seria, por exemplo, o pagamento de atrasados desde a demissão ocorrida há 12 anos? Ah! sim! Ao mesmo tempo em que cogita readmitir Bordin, a Copel tenta recuperar o prejuízo causado à empresa pelo ex-funcionário. Para isso entrou com ação contra o estado, conforme se vê na Apelação Cível 770.373-3, em que Bordin é citado.

Consultores 1

Está com o juiz da 2ª Vara da Fazenda Pública a responsabilidade de decidir se a Sanepar deve ou não extinguir os 30 cargos comissionados de “consultor estratégico” que criou em maio de 2011. Eles chegam a render aos seus ocupantes salários de até R$ 20 mil mensais, embora não tenham função definida a exercer. Em sua maioria, os nomeados são amigos que ajudaram na campanha de 2010 ou políticos paroquiais que ficaram à deriva depois eleições de 2012 e 2014.

Consultores 2

A ação que pede a extinção dos cargos foi impetrada pelo Ministério Público após representação do Sindicato dos Engenheiros do Paraná. O MP seguiu o argumento de que a Sanepar cometeu ilegalidade, pois, no seu entendimento, cargos comissionados só podem ser criados, mesmo em estatais, após a aprovação de lei neste sentido.

Isonomia

Desembargadores e juízes aposentados conseguiram decisões judiciais que os livram de contribuir à Paranaprevidência. Já a Associação dos Servidores do TJ não teve a mesma sorte: seu pedido foi negado. Estão na fila, com ações já protocoladas requerendo a isenção, delegados de polícia e procuradores. Todos perguntam: o princípio da isonomia ainda existe?

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Outras desgraças apareceram: primos, amigos próximos, gente de confiança, co-pilotos e companheiros de viagem meteram-se em confusões de tal porte que, dia sim outro também, levam o governo do Paraná a frequentar espaços negativos do Jornal Nacional e na grande mídia impressa do país. Já não dá para culpar terceiros – os protagonistas dos últimos acontecimentos são “gente da casa”, com liberdade para entrar nas cozinhas sem pedir licença.

O último amigo a aparecer nas páginas – embora envolvido em fatos não relacionados com a administração estadual – foi o empresário Luiz de Carvalho, ex-secretário da Copa nas gestões dos prefeitos Beto Richa e Luciano Ducci. Ele foi preso pela Polícia Federal e levado a São Paulo para explicar sua atuação num esquema transnacional de lavagem.

Claro que isso tudo aborrece o governador, cuja defesa se concentra em afirmar que a corrupção da Receita é endêmica e que não é obra só do seu governo. Pelo contrário, tem procurado combatê-la e se mostra disposto a colaborar com as investigações e a punir tantos quantos forem pilhados cometendo malfeitos.

Inconsolável, Richa busca forças superiores para resistir à tormenta. Dia destes, por exemplo, recebeu o novo arcebispo de Curitiba, dom Antonio Peruzzo, levado ao seu gabinete acolitado pelos padres José Aparecido, capelão do Palácio, e Reginaldo Manzotti, celebrante oficial de missas campais no Centro Cívico.

Após ouvir os lamentos do governador, dom Peruzzo, sacerdote acostumado a socorrer os aflitos, deu-lhe um simples e sábio conselho: “O senhor precisa aprender a engolir azedo e cuspir doce!”

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