Olho vivo
Derrama 1
Além da derrama fiscal que Richa impôs aos paranaenses, derramam-se dele no "day after" explicações absolutamente incompreensíveis. Segundo disse ontem em Londrina, um dia após a aprovação do "tarifaço" pela Assembleia, que isso nada tem a ver com a suposta má gestão que imprimiu no estado. Desfiou números positivos a respeito da economia e até reconheceu que a receita em seu período cresceu 56% a maior do Brasil. Mas, então, por que o governo desequilibrou suas finanças a ponto de obrigar o povo a pagar o pato?
Derrama 2
A explicação mais sensata, publicada anteontem pela Gazeta, o governador poderia ter assimilado. Ela foi dada pelo economista Mauro Costa, que Richa escolheu para ser secretário da Fazenda a partir de janeiro. Ao responder à pergunta sobre em que o governo errou, Costa foi taxativo: "Errou no momento em que gastou mais do que devia. Se você faz um orçamento acima das possibilidades de receita, você quebra o estado. E, se faz isso com frequência, agrava-se mais ainda a situação, o estado vai acumulando dívidas ano a ano".
Derrama 3
Ok! O governo gastou mais do que devia sem que o governador tivesse consciência disso? O que fazer agora? perguntou o repórter a Mauro Costa, que respondeu: "Pode gastar menos com ele próprio, no custeio da máquina, evitando aumentos salariais extraordinários. Tudo isso vai [...] criando margens para investimentos. Se você segurar a despesa de pessoal, por exemplo, tem margem para fazer mais investimentos. Ter R$ 50 bilhões de orçamento e ter R$ 1 bilhão para investimento é inadequado. Um estado como esse devia ter R$ 5 bilhões. Não faz [investimentos] porque gasta tudo com a máquina".
Seu nome está na lista da "dívida ativa" da prefeitura de Curitiba e, dada à fortuna em que se transformou o débito, sobre o qual recaíram juros, correção, multas e honorários, não tem como pagar. De repente, a prefeitura, interessada em arrecadar caraminguás perdidos para pagar seus credores, lança o Refic que cancela alguns dos encargos e ainda permite ao contribuinte parcelar o que deve em 12 ou 24 vezes.
Ótimo: como fez dia desses o leitor C.B.Q., você corre ao guichê disposto a aderir ao Refic para limpar seu nome em suaves prestações. Surpreendentemente, porém, o servidor municipal que o atende diz: "Meu senhor, não é possível fazer o seu Refic". A explicação vem do próprio funcionário: a prefeitura está devendo para o Instituto Curitiba de Informática, o famigerado ICI, que, em represália, decidiu "travar" o sistema que daria acesso à formalização do acordo de parcelamento!
A coluna procurou a assessoria da prefeitura, que confirmou as duas coisas: a) sim, o município está devendo R$ 15 milhões ao ICI; b) sim, o sistema está bloqueado e não é possível atender os contribuintes interessados em fazer o Refic. E dá uma informação adicional: o município esperava arrecadar pelo menos R$ 3 milhões resultante da primeira parcela do programa, dinheiro extra com o qual pretendia quitar alguns de seus próprios atrasos, incluindo o próprio ICI.
O presidente do ICI, Luiz Mario Luchetta, tem outra versão: o sistema só não foi implementado até agora por questões técnicas o que a prefeitura já teria reconhecido ao noticiar o adiamento (sem data) do início efetivo do programa.
A historinha tipifica bem a situação já denunciada tantas vezes: a cidade é refém absoluta de uma lucrativa organização social (OS) "sem fins lucrativos" dominada por setores privados que presta a totalidade dos serviços de informática para a administração.
O ICI é o dono da máquina: sem ele, não funcionam, por exemplo, serviços tão essenciais quanto a bilhetagem do transporte coletivo, os sistemas de arrecadação tributária, folha de pagamento etc. Em resumo: se o ICI decidir fazer "greve" ou romper o contrato, a prefeitura e a cidade simplesmente param.
Os cofres municipais arcam com R$ 100 milhões por ano para manter o contrato com o ICI, renovado na gestão de Luciano Ducci para até 2016. A ser verdadeira a informação extraoficial de que a prefeitura está com R$ 15 milhões atrasados junto ao ICI, a dívida seria equivalente a 15% do compromisso anual.
O instituto foi criado no mandato do prefeito Cassio Taniguchi, nos anos 90. Desde então foi ampliando suas áreas de atuação dentro da própria prefeitura e expandiu suas atividades para outras cidades do país. Do seu conselho de administração fazem parte apenas dois representantes do município sempre minoritários em relação aos outros quatro membros privados.
Dê sua opiniãoO que você achou da coluna de hoje? Deixe seu comentário e participe do debate.
Número de obras paradas cresce 38% no governo Lula e 8 mil não têm previsão de conclusão
Fundador de página de checagem tem cargo no governo Lula e financiamento de Soros
Ministros revelam ignorância tecnológica em sessões do STF
Candidato de Zema em 2026, vice-governador de MG aceita enfrentar temas impopulares