Está se armando uma nova "guerra do Contestado" entre Paraná e Santa Catarina. A primeira começou no início do século 20 quando caboclos liderados por religiosos fanáticos se revoltaram contra a espoliação de suas terras por parte da norte-americana Lumber, empresa à qual o governo havia concedido o direito de construir uma ferrovia até o Rio Grande do Sul em troca das terras que margeavam a estrada e da exploração da madeira e da erva-mate ao longo do trajeto.
Estava em jogo, também, uma velha questão de limites entre Santa Catarina e Paraná. O estado vizinho reivindicava o território Oeste; o Paraná também. Por isso, a região ficou conhecida como Contestado justamente por onde passava a nova ferrovia. O problema só se resolveu após longa batalha jurídica no Supremo Federal, que acabou dando ganho de causa a Santa Catarina, em 1916, deixando para trás o sangue de milhares de mortes.
A segunda "guerra do Contestado" ainda muito silenciosa envolve também uma ferrovia. Segundo o projeto original da Norte-Sul, trecho ferroviário que desce de Maracaju (MS) em direção ao Porto de Rio Grande (RS) passando por Cascavel. De Cascavel sairia um ramal até Guarapuava (aproveitando a já existente Ferroeste) e seguiria por Mafra até chegar aos portos de Santa Catarina.
Os paranaenses gritaram: estão querendo matar Paranaguá, era o brado de guerra. Diante da reação, o governo federal prometeu rever o projeto de modo a fazer uma ligação direta Guarapuava-Lapa-Paranaguá, atravessando trecho da Serra do Mar. E tudo estaria bem para os paranaenses se assim se fizesse. Os estudos de viabilidade, inclusive ambiental, porém, ainda não foram concluídos.
Pois bem: os catarinenses até hoje não "engoliram" a proposta de mudança do trajeto. E, com o apoio do governo e de empresários, a Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc) e o Crea de lá elaboram estudos para convencer a governo federal a manter basicamente o traçado original.
Eles querem que de Guarapuava a ferrovia se ligue a Porto União e Canoinhas e daí chegue ao mesmo destino inicialmente projetado isto é, ligando-se a Mafra e aos portos catarinenses. O objetivo é atender a forte região agrícola e industrial do planalto Norte de Santa Catarina o que significa que, se outra vez ganharem a guerra, os catarinenses criarão dificuldades para a subsistência do Porto de Paranaguá.
Claro que Santa Catarina não se limita às propostas técnicas que elabora mas já faz uso da força política e de seu poder de articulação com Brasília para fazê-las prevalecer sobre os interesses do Paraná. Ninguém contesta: em se tratando de política, os catarinenses costumam levar mais vantagens do que os paranaenses. Desde 1916. Cuidemo-nos.
* * *Olho vivo
Em guarani e...
Grande parte dos índios que vêm ocupando terras no Oeste do Paraná não falam português falam espanhol ou guarani, observou ontem, em discurso na tribuna, o senador Alvaro Dias. Segundo ele, os indígenas vêm do Paraguai sob proteção da Funai entidade "aparelhada pelo PT" que identifica como a principal responsável pelo desassossego dos produtores rurais da região.
...em português
O discurso de Alvaro se deu após audiência pública na Câmara Federal na qual a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, falou em português claro: "Se queremos resolver esta situação, precisamos serenar os ânimos", referindo-se ao fato de a Constituição Federal dar à Funai duplo papel. De um lado, é dever da Funai proteger a população indígena, mas ao mesmo tempo dá a ela também o poder de demarcar terras. A duplicidade, que acaba por causar prejuízo a outros setores da sociedade, precisa ser mediada pelo Estado como garantidor dos direitos de todos, disse Gleisi.
Calendas 1
O anúncio da prefeitura de que o metrô deixado por Ducci, por seus defeitos, é irrealizável, seguido, ao mesmo tempo, da busca de empresas para elaborar novo projeto, mais se pareceu com uma preparação da opinião pública para o "choque" que receberá em breve diante de duas notícias penosas: a morte do metrô e a perda do R$ 1 bilhão prometido por Dilma para sua construção.
Calendas 2
A certeza é de que qualquer novo projeto que apareça apresentará custo no mínimo dobrado para a obra e, portanto, economicamente inviável. Enquanto isso, Ippuc e técnicos independentes trabalham em alternativas de transporte mais condizentes com a realidade e as necessidades urbanas.