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O estrago político infligido ao governo Requião pela explosiva carta-testamento do ex-procurador Sérgio Botto poderá se tornar maior do que já mostram os destroços que vieram à superfície. Um dos desdobramentos desse novo espasmo da crise permanente que corrói o terceiro mandato configurou-se ontem com a anunciada disposição das oposições de passar a trabalhar unida.

A idéia foi lançada pelo presidente estadual do PPS, Rubens Bueno, e acatada pelos presidentes de outros quatro partidos. A primeira reunião do grupo para firmar o pacto e traçar estratégias de atuação conjunta vai ocorrer na segunda-feira. Já confirmaram presença os presidentes do PDT, senador Osmar Dias; do PSDB, deputado Valdir Rossoni; do DEM, deputado federal Abelardo Lupion; e o do PSB, Severino Araújo.

A decisão é importante e – se os deputados tiverem juízo suficiente – terá reflexos imediatos na Assembléia Legislativa. Lá, os que não são governistas dividem-se em duas partes quase iguais – os de oposição e os auto-denominados independentes. Não raras vezes essas duas partes, que teoricamente somam 18 deputados (número mínimo suficiente para convocar uma CPI) batem cabeça, ao passo que a maioria governista, com seus 36 cordeiros membros, navega de braçada para aprovar tudo quanto Requião quer – até mesmo (ou principalmente!) leis inconstitucionais.

Ou se unem ou tudo continua como está. Ou seja, Requião continuará dirigindo o estado como se fosse uma fazenda invadida. O governo perdeu sua capacidade de planejamento, afugenta investimentos, mete-se em conflitos retóricos e judiciais intermináveis, assiste omisso à pilhagem de recursos públicos e vai acumulando passivo incalculável e de difícil resgate.

Restam ainda três longos anos para o término deste mandato. Ou a Assembléia toma jeito e faz sua parte para corrigir os rumos, ou se incluirá na história como co-responsável pelo caos. Isso vale para todos os deputados. Espera-se que agora pelo menos os parlamentares de oposição façam melhor a sua parte.

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Em defesa de Elma

A Justiça negou ontem habeas-corpus para livrar da prisão a engenheira agrônoma Elma Romanó – a ex-chefe do escritório regional do IAP em Ponta Grossa que acabou estranhamente presa pela polícia sob suspeita de estar envolvida no caso, após ter denunciado um grupo de funcionários do órgão, policiais militares, dirigentes de ONGs e fazendeiros como participantes de um esquema corrupto para derrubar florestas na região.

É grande a comoção entre os ambientalistas que conhecem Elma – 50 anos de idade e quase 30 como servidora pública sem nunca ter constado em sua ficha funcional nenhum deslize. Foi só ousar fazer as denúncias, abrir sindicâncias, identificar autores de delitos e pedir providências aos seus superiores para que, de repente, fosse também incriminada. Tem todo o cheiro de uma armação.

Por isso, 15 entidades de defesa ambiental e de representação profissional (como o Instituto de Engenharia do Paraná e o Crea) decidiram na noite de quarta-feira fundar o Fórum Permanente Elma Romanó. Vai se reunir todas as semanas para tomar medidas em sua defesa e, sobretudo, lutar contra a corrupção em órgãos ambientais do Paraná – aliás, há muito denunciada pelo próprio governador Roberto Requião.

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Dominó – O governo noticiou como definitiva e irreversível a decisão da 2.ª Vara da Fazenda Pública de Curitiba anulando o pacto de acionistas que dá ao grupo Dominó o direito de participar da gestão da Sanepar. Não é definitiva e nem irreversível: da decisão é possível recorrer aos tribunais superiores que, nos últimos tempos, em diferentes processos sobre o contencioso com o Dominó, tem feito exatamente o contrário, isto é, tem confirmado a legalidade do pacto de acionistas.

Pen drive 1 – O minúsculo dispositivo que grava arquivos de computador está se tornando, definitivamente, um artigo muito popular no Paraná. Ele foi lembrado pela primeira vez como miraculosa e essencial peça que complementa as televisões alaranjadas. Foram muito citados também nos últimos dias, quando foi surrupiada de um pen drive a troca de uma correspondência que causou a mais recente crise intestina do governo. E agora se revela também que a Secretaria da Educação acaba de comprar 60 mil unidades.

Pen drive 2 – A aquisição foi concluída no mês passado por meio de pregão eletrônico. Dividida em seis lotes de 10 mil pen drives cada um, com capacidade para armazenar 2 gigabites de dados, a licitação foi vencida por quatro diferentes e felizes fornecedores ao preço total de R$ 2.625.900,00. Em tempo: a Cequipel sequer participou da licitação.

Muito grato – O deputado José Genoíno, o ex-presidente do PT metido no esquema do mensalão, esteve em Curitiba na semana passada. Veio para lançar um livro. Mal voltou a Brasília pediu a palavra para, da tribuna da Câmara, agradecer o apoio que o governador Roberto Requião deu ao evento. E aproveitou para lascar um elogio: "Ao longo da minha história política, conheci bem Roberto Requião, que possui duas características – coragem política e assume posições".

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"Ninguém quer tirar o medicamento de alguém, muito pelo contrário."

Do secretário interino da saúde, Gilberto Martin, anunciando a criação de uma câmara técnica para, antes de fornecer os remédios especiais para doentes desesperados, debater cientificamente se eles são mesmo eficazes.

celso@gazetadopovo.com.br

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